Surgida no final do século XIX, com chegada no Brasil a partir do século XX, a motocicleta virou sinônimo de paixão por velocidade em todo o mundo. Com vários estilos, tamanhos, cores e potências, elas rapidamente deixaram de ser um meio de transporte para se transformar em duas rodas que traduzem liberdade e aventura. Pela garagem do Supremo circulam em média 91 motos, que se revezam nas 30 vagas de estacionamento disponíveis. O perfil dos donos é o mais variado possível, jovens e senhores, homens e mulheres, que muitas vezes preferem deixar o carro em casa para transformar uma simples ida ao trabalho em pura aventura.
É o caso do servidor da Seção de Cadastro de Beneficiários e Reembolsos, Raimundo Luiz Monteiro, que desde os sete anos de idade pilota motocicletas. Detentor de uma Honda 750, modelo Shadow, carinhosamente apelidada de Ana Paula, ele não esconde a emoção ao falar de todas as motos que já teve e do sentimento que sente por cada uma. “O amor que eu sinto por uma moto minha só é comparada ao amor de uma mulher”, afirma Raimundo, que já viveu muitas histórias com seus ‘amores’.
Histórias, como sua vinda para Brasília em cima de uma “monstrenga”, remendo de vários modelos que comprou em sociedade com um antigo amigo, quando percorreu os mais mil quilômetros que separam São Paulo da capital do país. “Demorei uma semana para chegar a Brasília, a moto quebrou seis vezes pelo caminho”, relembra.
Outra memória de sufoco na vida de Raimundo, que hoje se transformou em motivo de risadas, foi sua viagem sobre duas rodas para a Argentina, na época das ditaduras na América Latina. ”Eu e mais dois amigos fomos presos pelo militarismo e tivemos que ficar seguindo ordens em uma fazenda”, conta “felizmente, depois de uma semana, a gente conseguiu fugir durante uma madrugada, graças ao companheirismo.”
Companheirismo, aliás, é considerado pelos motociclistas a maior característica daqueles que gostam realmente de motos. “Independente da moto que você tem, sempre rola uma interação com outros motociclistas”, comenta Rodrigo Azevedo, da Seção de Publicação de Conteúdo Eletrônico, dono de uma Hornet 600, que apesar de gostar de andar em grupo, não dispensa o passeio solitário pela cidade. “É muito boa aquela sensação de liberdade, o vento batendo em você, esquecer os problemas e reparar coisas que de carro você não vê”, enaltece.
Nesse universo tradicionalmente dominado pelos homens, as mulheres conquistaram seu espaço e colocaram de vez suas motocicletas nas pistas. Entre elas, está a estagiária da Seção de Saúde Funcional, Zilmar Lima, que tem uma Suzuki Intruder. “A gente dá um toque feminino, coloca uma calça bacana, uma jaqueta de couro e sai para dar uma volta, sem compromisso”, conta ela, que já atravessou a cidade apenas para andar de moto. “Uma vez , estava estressada e peguei a moto 1h da manhã, na chuva, pra andar vários quilômetros”.
Andar sem rumo, sem lugar definido para chegar, é um dos maiores hobbies dos motociclistas. Com isso, surgem vários grupos que se reúnem apenas para conversar e andar pelo Brasil a fora. Um deles é chamado de “Os desgarrados” e tem como responsável Raimundo, que está no grupo desde sua fundação. “O nosso grupo tem como lema três palavras: União, Solidariedade e Amizade, e esta deve ser a base de todo motociclista”, defende.
De geração pra geração
A paixão por motos pode ser adquirida de diversas maneiras. Pelo simples fato de ver uma motocicleta bonita ou por assistir corridas na televisão. Mas a maneira mais comum de se ingressar nessa tribo é através da passagem que vem de berço. É o caso do casal de filhos de Zilmar. “Meus filhos gostam muito que a mãe vá buscar na escola, eles adoram estar na moto”, garante.
Para os dois filhos de Raimundo, a paixão começou ainda mais cedo. “Quando eles estavam começando a andar já subiam na moto e depois a pegavam escondida”, relembra. Agora com os dois adultos, o pai abre o sorriso ao contar que eles o acompanham em seus passeios. “Eu sinto orgulho da iniciativa deles em querer comprar e andar comigo. São coisas que só a moto pode proporcionar”.
Segurança
O medo é algo comum a qualquer atividade que envolva aventura. Em cima de uma moto não é diferente. O segredo é conseguir conviver pacificamente com a tensão. “O medo é bom. Ruim é não conseguir controlar o medo”, afirma Rodrigo, que nunca sofreu um acidente andando de moto.
Rodrigo é um caso que está cada vez mais raro, devido ao abuso de todos que convivem diariamente no trânsito, seja ele motociclista, motorista ou pedestre. O que acaba por causar o único momento de tristeza que Raimundo tem no mundo dos motociclistas. “A minha decepção é quando acontece a fatalidade… já perdi companheiros que se foram e deixaram muita saudade”, revela. E conta uma história de amizade. “Tem um conhecido que tem tanta consideração com um amigo que sempre leva a moto puxando um reboque com o caixão do companheiro que perdeu na estrada”.
Para evitar histórias de tristezas e saudades, o uso de itens de segurança é obrigatório. Capacete, luvas, roupas adequadas e botas devem sempre compor o vestuário do motociclista para que nada de grave aconteça. Os motociclistas garantem que aliando a segurança ao espírito de aventura e à responsabilidade, a viagem de moto proporcionará um grande sentimento de prazer e liberdade, impossível de ser alcançado dentro de um carro.
Fonte: Supremo em Dia
