Já ouvimos falar de pessoas com temperamento forte, teimosas ou então de difícil entrosamento. São indivíduos que necessitam, entre várias coisas, que os companheiros tenham tato muito refinado no convívio do dia a dia e grande jogo de cintura para se relacionarem sem que o estopim seja aceso e tudo vá pelos ares. Trazem desgaste para a equipe, família e principalmente para eles próprios, haja vista que, além de estragarem o dia dos outros, por fim, o seu também é prejudicado. Terminam o expediente estressados, com dor no estômago, a cabeça latejando e um monte de sintomas que indicam que alguma coisa não está legal.
Esse assunto tem sido abordado em artigos, debates e livros por vários especialistas e conhecedores da área. No entanto, hoje, gostaríamos de tratá-lo por um ponto de vista diferente. Vamos tomar a lugar do funcionário e citar o ambiente e a empresa como sendo os problemas.
Em nossas andanças, encontramos empresas totalmente pragmáticas e desestruturadas. Corporações grandes com cem, trezentos, quinhentos funcionários ou mais sem nenhuma linha administrativa, filosofia ou procedimento interno. Companhias remanescentes dos pais e avôs que cresceram apenas pela força da correnteza. Lugares onde ainda impera a lei da hierarquia e o supervisor o é por ter mais tempo de casa, ser de confiança, tendo este inclusive a derradeira palavra. Perfis funcionais não existem. Tendências e habilidades individuais são frescuras e se você não sabe apertar parafuso, aprenda, porque lá, se este for o seu trabalho, não adianta ser bom em outra coisa, terá de fazê-lo e pronto! Modelos de gestão engessados, centralizadores, tocados na chibata os quais ainda são encontrados igual mato nas ruas da periferia. Isso tanto no setor privado quanto no público.
Lugares onde os gerentes não acompanham de perto seus subordinados, não participam debatendo e ouvindo as ideias, são propícios à formação de grupos informais e nova organização é desenvolvida: a dos refugiados. São pessoas abandonadas, independentes, ou não, que por fim competem entre si e os outros grupos, criando vida própria, tomando decisões e controlando, ainda que de maneira informal, os passos da empresa.
Com passar do tempo, a distância entre as pessoas chega ao ponto que um começa a criticar o outro esquecendo a proposta inicial de trabalho que era participar da produção da fábrica, melhorar nível de vida, se tornar produtivo e necessário no contexto social.
Qualificamos o elemento como ‘pessoa difícil’ quando ele é amarrado, não aceita mudanças, tudo está ruim, não pode ajudar em nada, quando ao dar sua opinião sobre determinado assunto ela vem carregada de argumentações, questionamentos, etc. Mas, será que temos razão nesse conceito atribuído ao companheiro? Será que presenciamos algum fato em que coubesse tal qualificação? E se o problema não estiver na pessoa, e sim na organização? A probabilidade de um certo e vários errados é pequena, mas não impossível. Quem não garante que seu mau humor não é consequência do ambiente organizacional onde este comportamento é reflexo de um grupo mal gerenciado, revoltado, insatisfeito ou concorrente entre si? Será que este adjetivo não foi taxado em um período conturbado na vida particular? Não seria ele somente uma pessoa que externa mais sua insatisfação que outras? Quem de nós, quando replicados nas conversas setoriais, não se sente afrontado ou desrespeitado e agracia o par com críticas até mesmo pessoais? Somos despreparados para receber argumentação sobre pressão. Algumas vezes esquecemos a ética fugindo ao próprio laço afetivo quando a oportunidade é comentar qualidades pessoais ou situações dos companheiros de serviço.
O homem inteligente fala de coisas, não de pessoas. Discute oportunidades de melhorias, e não os prejuízos. Comenta os erros, e não quem os cometeu.
Muito do que comentamos ou escutamos é história, viciada pelo interlocutor, contaminada de sentimentos e suposições oriundas de entrelinhas muitas das vezes inexistentes. Os rótulos inseridos nos colegas de trabalhos são fixados nas costas onde somente por trás o lemos, impossibilitando, não somente que junto dele o assunto seja discutido e esclarecido, mas que uma ideia séria e justa seja criada sobre o julgado.
Fazendo um paralelo, temos nos livros de história as grandes conquistas dos colonizadores, desbravadores, exércitos, militares e outros volumosos os quais evidenciam quão vitoriosas formam as investidas do passado. Estes relatos são levados de geração em geração, livros em livros, filmes em filmes. No entanto, são também testemunho da soberania dos mais fortes sobre os mais fracos, da maioria sobre a minoria, dos mais bem organizados sobre os extintivos, do unilateralismo sobre a diplomacia, dos que contaram a história primeiro sobre os que se calaram, enfim, são fatos contados por quem venceu à guerra. Se a história fosse redigida pelos derrotados, os livros trariam massacre, genocídio, prepotência, quebra dos direitos humanos e principalmente a arrogância de poucos dominando a opinião pública e induzindo a grande massa a julgar que toda guerra era justificável e necessária. Logo, além do acesso à somente um lado da informação, acreditamos e aplaudimos a versão da forte e dominadora minoria.
Assim como o erro, a razão também é parte do ser humano e deve sempre ser invocada para avaliar aspectos e danos da ideia formulada. A medição das palavras além de um bom exercício mental é aliada neste comportamento que deve ser trabalhado todos os dias. Preserve a integridade do seu parceiro. Não permita que interesses sobreponham-se a valores pessoais. Não permita críticas sem que tenha concorrido diretamente ao fato. Não critique o fato, sugira uma possibilidade de melhoria. Não utilize as costas das pessoas para fixar adjetivos. Ainda que eles não sejam os melhores, amigos do peito utilizam este para participar aos colegas não somente as alegrias, mas principalmente a lealdade e o companheirismo. Se o seu grupo é forte, você também será!
Fonte: RH Portal
