Na semana passada, tratamos de sintaxe de colocação de pronomes átonos e afirmamos que a colocação padrão é a ênclise. Nesta semana, vamos enfocar duas outras categorias de pronomes: os possessivos e os demonstrativos.
Os pronomes possessivos estabelecem relação de posse entre as pessoas do discurso e um objeto qualquer. Ocorrem com ou sem artigo à esquerda (“o meu/meu”) sem haver nisso valor linguístico, mas apenas regional. Também são relacionados às pessoas do discurso e com elas devem combinar-se tanto em gênero e número da coisa possuída quanto em número de pessoas representadas no possuidor. São eles:
– 1ª pessoa do singular: meu(s), minha(s);
– 2ª pessoa do singular: teu(s), tua(s);
– 3ª pessoa do singular: seu(s), sua(s);
– 1ª pessoa do plural: nosso(s), nossa(s);
– 2ª pessoa do plural: vosso(s), vossa(s);
– 3ª pessoa do plural: seu(s), sua(s).
Importa destacar aqui mais uma consequência da inclusão do pronome de tratamento “você” no rol dos pronomes pessoais retos: a ambiguidade do “seu”. Veja os exemplos: “Ana comprou a sua camisa”, em que o pronome pode referir-se a “Ana” ou “camisa”. Já em “Você comprou a sua mesa?”, “Você” e “sua” têm o mesmo referente. Para resolver essa ambiguidade, o falante pode lançar mão de “dele(s)/dela(s)”.
Quanto ao valor, segundo Cunha e Cintra, os possessivos podem acentuar um sentimento: a) de deferência, respeito, polidez; b) de intimidade, amizade; c) de ironia, malícia, sarcasmo.
Já os pronomes demonstrativos situam a pessoa ou a coisa designada, tanto no espaço quanto no tempo, em relação às pessoas do discurso. Essa função, bem característica dessa categoria de pronomes, é a velha e boa função dêitica. Além dessa função, os demonstrativos também têm a função anafórica, muito empregada em textos formais escritos. Por fim, essa categoria traz marca do latim, com os pronomes invariáveis “isto/isso/aquilo”, filhos do gênero neutro latino. São eles:
– 1ª pessoa: este(s), esta(s): indicam situação próxima no espaço e tempo presente;
– 2ª pessoa: esse(s), essa(s): indicam situação intermediária ou distante no espaço e passado ou futuro pouco distante no tempo;
– 3ª pessoa: aquele(s), aquela(s): indicam situação longínqua no espaço e passado vago ou remoto no tempo.
Assim, se eu quiser fazer referência ao teclado em que escrevo, devo dizer “este teclado é bom”; se eu quiser falar do seu teclado – pessoa que me lê – devo dizer “esse seu teclado é bom”.
Quer saber mais? Mande e-mail para dicasdeportugues@cnj.jus.br. Quer ouvir um fado com muitos pronomes? Clique aqui. Quer ler um artigo sobre demonstrativos no português arcaico?
Tome posse desta semana!
Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social do CNJ
