Infinitivo flexionado e não flexionado

Nesta semana, continuamos na mesma classe de palavras cujos integrantes são incontáveis: os verbos. Começamos a focar as formais nominais, mais precisamente o infinitivo. Na próxima semana, trataremos de particípio e gerúndio.

Há dois tipos de infinitivo: o impessoal e o pessoal. O impessoal é aquele que não marca o sujeito, e o pessoal flexiona-se em pessoa e número, por exemplo: eu cantar, tu cantares, ele cantar, nós cantarmos, vós cantardes, eles cantarem. Quer ouvir alguém cantar com infinitivo sem flexão? Eis a música.

O emprego da forma flexionada é, segundo Cunha e Cintra, “uma das questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa”. E “numerosas têm sido as regras propostas pelos gramáticos para orientar com precisão o uso” dessa forma verbal. Sendo assim, são apresentados a seguir os usos da forma flexionada em que aparentemente há consenso desde que ocorram fora da locução verbal:

– quando o infinitivo tem sujeito claramente expresso, especialmente se marcado por pronome; por exemplo: “É curioso tu não perceberes este fato.”;
– quando o infinitivo se refere a um agente não expresso que se quer dar a conhecer pela desinência verbal, por exemplo: “Acho melhor não fazermos isso.”;
– quando o infinitivo indica indeterminação do sujeito na terceira pessoa do plural; por exemplo: “Ouvi dizerem que o neném já nasceu.”.

Nas locuções verbais, o normal/mais frequente é o infinitivo ocorrer sem flexão, como nos exemplos a seguir: “Explicou como teriam de assar a carne.”; “O medo fez-lhes crer que não sobreviveriam.” Se você quiser, pode mandar uma possibilidade de reescrita deste último exemplo para dicasdeportugues@cnj.jus.br.

Bem resumidamente, é possível raciocinar assim: o infinitivo está em uma locução verbal? Se está sim, ocorre sem flexão. Se não está, pode se flexionar caso haja necessidade de pôr em evidência o agente da ação, como Said Ali já nos ensina.

Se você quiser expandir sua mente, comece pela “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”, de Napoleão Mendes de Almeida. E continue por um estudo sobre as origens do infinitivo flexionado, podendo, até, retroceder ao período renascentista.

Uma semana flexionada!

Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social