Preposição

Esta é a segunda semana em que tratamos de preposição. Semana passada, você relembrou a diferença entre preposição acidental e essencial. Nesta semana, o foco é no valor da preposição, que ora está presente, ora se faz ausente.

De um lado, o verbo “gostar”, por exemplo, em língua portuguesa, sempre ocorre com a preposição “de”; assim como o verbo “simpatizar” sempre se junta a “com”. Essas preposições são apenas relacionais, ausentes que são de conteúdo significativo contemporâneo. São preposições que marcam a transitividade do verbo a que se referem e introduzem termo cuja função sintática é essencial à frase.

Por outro lado, observe a seguinte sequência de orações: Falei de você, falei com você, falei sobre você, falei por você, falei para você, falei após você, falei contra você, falei perante você. Cada uma delas, em que a única diferença sintática é a preposição empregada, tem um sentido diferente. E de onde vem essa diferença? Essa diferença vem do valor da preposição que ocorre na frase. Percebeu a diferença e as nuanças semânticas? Ficou com dúvida? Escreva para dicasdeportugues@cnj.jus.br.

Cunha e Cintra apresentam alguns valores das preposições:

– “a”: indica direção a um limite, coincidência, concomitância.

– “ante”: anterioridade relativa a um limite.

– “desde”: afastamento de um limite com insistência no ponto de partida.

– “sobre”: posição de superioridade em relação a um limite (figurado ou concreto), com contexto de aproximação ou alguma distância.

E por aí vai. Consulte a gramática de Cunha e Cintra e veja mais detalhes (disponível na sala 102 B da 514 Norte). Ou ainda neste artigo.

Você também pode descobrir como o variacionismo analisa algumas preposições aqui. Ou estudar como as palavras tornaram-se preposição e como as preposições estão se gramaticalizando aqui, sob o ponto de vista do funcionalismo.

Uma palavra final sobre a preposição nestes dois verbos: “dis-cordar de” e “con-cordar com”. Você percebeu que em ambos há palavras semelhantes? “Dis” e “de”, “con” e “com”. Em latim, a preposição ocorria antes do verbo, algo como “dis cordar”. Com o tempo, passou-se a escrever tudo junto: discordar. E surgiu a necessidade de replicar a preposição: “discordar de”. Sabe esse “cordar”? É o mesmo que deu origem à palavra “coração”. Assim, “discordar de” alguém é estar com o coração afastado do coração do outro, e “concordar com” é estar com o coração juntinho ao do outro.

Uma semana agradável!

Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social