Com um pé em um novo mês, a três meses de 2014, é chegada a hora de virar a página. Mudar de Unidade. Vamos à sintaxe! Sintaxe, “do grego súntaksis, arranjo, disposição, organização; construção gramatical”. Em português do Brasil hodierno, sintaxe refere-se às palavras “tudo junto e misturado”. Não se trata mais de forma, como na morfologia, mas de função e, por isso mesmo, da relação entre uma palavra e outra, entre as duas e o verbo e de tudo isso com outro verbo, por exemplo.
Comecemos com o poeta curitibano Paulo Leminski:
O ASSASSINO ERA O ESCRIBA
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Viu como é possível duplo sentido na sintaxe? Viu como há alegria na sintaxe? Você já teve vontade de matar seu professor de análise sintática? Algum trauma de infância? Enquanto você se lembra de alguma coisa, ouça e veja uma interpretação desses versos na voz de Arnaldo Antunes aqui.
Vamos começar do começo, bem do comecinho, e o propósito é usar menos terminologia técnica e mais lógica, tão objetiva quanto a matemática, para ajudar você a usar a sintaxe a seu favor, na construção de textos corretos, bem amarrados e efetivos. De agora até o final do ano, é a sintaxe o tema desta coluna.
A primeira distinção necessária é entre frase, oração e período. O elemento distintivo entre os três é o verbo. O verbo conjugado (não vale forma nominal). Se o verbo não está presente, há uma frase. Se o verbo está presente e ocorre uma única vez, há uma oração. Se o verbo está presente e ocorre duas ou mais vezes, há um período. É possível existir frase com uma palavra só – como “Fogo!”, proferida por alguém que vê um incêndio – e período curtinho – como a famosa frase de Júlio César: “Vim, vi e venci”. O fundamental, nos três casos, é a construção de enunciado de sentido completo. Nem toda palavra isolada é uma frase. Depende do contexto. A extensão também não determina se há frase ou período. Essa é tarefa do verbo.
Portanto, como vamos tratar de sintaxe, interessa-nos a oração e o período.
Quer recuperar o que se estudou sobre morfologia no primeiro semestre de 2013? Clique aqui.
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Quer ouvir uma música com vários períodos não tão longos e boa para uma segunda-feira? Eu não vou me adaptar.
Uma semana sinestésica!
Carmem Menezes
Revisora de texto da Secretaria de Comunicação Social
