Final de ano – Chance de recomeçar

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Quando o ano termina, pensamos na vida… Segue para você uma parte de um texto sobre abraço. Porque final de ano proporciona muitos abraços. E se o abraço não está bom, 2015 traz a oportunidade de melhoria nesse aspecto da vida. 

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Abrace. Só isso…

Ligia Moreiras Sena

Quantas vezes por dia você abraça?

Abraçar mesmo. Peito com peito, braços enlaçando a outra pessoa, olhos fechados de troca. Quantas vezes?

O que o número de abraços dados em um dia – ou em uma semana, ou em um mês, seja lá qual for a unidade de tempo que você queira considerar – diz sobre a qualidade da sua vida, das suas trocas, dos seus encontros, dos seus relacionamentos? […]

Aqui, agora, vamos falar de algo que adentra o domínio da subjetividade. Do impalpável. Daquilo que é fundamental e imensurável: afeto, carinho, solidariedade, troca, encontro de um peito com outro. De peitos conhecidos. Ou desconhecidos. Daquilo que um abraço profundo e verdadeiro quer dizer. Daquilo que é produzido em nós – e no outro – quando deixamos de lado nossas armaduras, ou nossos espinhos, para acolher e ser acolhido. Abraço.

Quantas vezes você abraçou quem você ama hoje?

Quantas vezes você abraçou suas crianças?

Qual a qualidade do abraço dado?

Onde estava sua mente enquanto abraçava?

Pode alguém viver sem ser abraçado? E sem abraçar?

Se pudéssemos comparar tempos históricos, será que estamos nos abraçando mais ou menos? Estamos nos tocando mais ou menos? Se menos, por quê? Se mais, como?

Há alguma relação entre a quantidade e a qualidade dos abraços que damos em nossas filhas e filhos e o nível de tranquilidade infantil? De confiança estabelecida? De noite bem dormida? De qualidade do diálogo que se tem? De cólica? De medo? De terror noturno?

O que acontece quando nossas crianças, em crise de choro, de irritação, de tristeza, são abraçadas intensa, sincera e carinhosamente?

O que aprendem as crianças que são abraçadas com frequência? E que sabem que têm abraços em abundância esperando por elas?

Seus filhos e filhas (ou sobrinhos, sobrinhas, afilhados, as crianças do seu entorno) abraçam? Muito ou pouco? Se sim, por que e quando abraçam? E como aprenderam? Se não, por que não abraçam?

Um abraço pode ser trocado por outro tipo de interação que signifique a mesma coisa?

Por que trocá-lo? Para quê trocá-lo?

Não sei como é com você, mas comigo abraço também é termômetro. Sei que algo não está muito bem entre mim e o outro pelo tipo de abraço que nos damos. Ou pela sua falta. Ou pela sua raridade, ou pouca frequência. Da mesma forma, sei que posso confiar e me entregar a alguém também por seu abraço. Pelo tempo, pela força, pelo contato. Pelo motivo. E, mais importante, mais especial: pela falta de motivo.

Sei que há amor, carinho e confiança quando o abraço chega inesperadamente e envolve, e faz relaxar mesmo que por poucos segundos, e faz reconhecer o terreno como seguro. Seja com um amigo, com alguém da família, com um colega de trabalho, com filhos, com desconhecidos, com amante.

Abraço é como olhar: não há como menti-lo, fingi-lo, forçá-lo. Ainda que se tente, não é possível. Os corpos não se enganam.

Abraço já virou tabu? Será que um dia vai virar? Como seria uma vida sem abraços?

O que será que sente uma criança que não é abraçada? Ou um adulto que não é abraçado? Alguém que não receba abraços com frequência? O que seria de um mundo em que abraços fossem trocados por eletrônicos? Por máquinas?

Não sei.

Mas desconfio de que não haveria muitos sorrisos, nem muito amor, nem muito gozo. […]

A vida parece não andar muito fácil nem muito simples pra ninguém ultimamente. Parece estarmos todos vivendo momentos de choque, quebra, confronto, dúvida, espera, momentos que nos colocam à prova, que testam nossos limites emocionais. As diferenças estão mais evidentes que as semelhanças. O confronto mais fácil que o encontro. A acidez mais fluida que a doçura.

Então eu deixei de postar agora um texto sobre psicofármacos e seus abusos para falar sobre abraço.

Porque talvez se tivéssemos mais abraços, precisaríamos de menos fármacos.

Se tivéssemos mais abraços… estaríamos todos mais juntos. Não parece meio óbvio?

Porque “no abraço, mais do que em palavras, as pessoas se gostam”, disse Clarice Lispector.

E parece que estamos um pouco carentes disso.

Que em agosto, que tantos temem não sei o porquê, a gente possa se abraçar mais.

Simplesmente abraçar.

E deixar todo esse ranço para trás.

Nada substitui calor humano. […]

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Que o Natal venha com o que é essencial para você e o Ano Novo seja a oportunidade de realização dos desejos mais queridos! 

Obrigada pelas sugestões, pelas críticas e pelos comentários. Em 2015, continuamos nessa aventura com a língua portuguesa! Sempre às ordens pelo dicasdeportugues@cnj.jus.br. 

O texto completo está disponível aqui. 

Abraços!

 

Carmem Menezes

Revisora de Texto da Secretaria de Comunicação Social