
“O tempo é o melhor autor: sempre encontra um final perfeito.” Charles Chaplin
Como apresentado na semana passada, cada mês deste ano terá um tema específico. O tema de fevereiro é pontuação.
Começamos, na semana passada, a tratar desse assunto e abordamos o uso do ponto de exclamação e do ponto de interrogação. Já anunciando o tema desta semana, deixamos dois textos sem vírgula, para que você os pontuasse corretamente. A seguir, a correção:
Texto 1
“De longe, por entre coqueiros, surge uma mulher vestida de calça e capa de borracha negra, dessas de marinheiro; na mão, um cajado longo. Não ouvem o que ela grita devido ao vento, mas sentem, no bastão erguido, um gesto de ameaça. Seguem-na um padre e um tipo de barbas. Em seguida, os pescadores: velhos moços e meninos.” (Jorge Amado)
Texto 2
“Durante o ciclo da borracha, fora aquela legião de rapazes para os seringais. Poucos voltaram. O governo prometia mundos e fundos: terras, hospitais, ordenado, médicos, escolas. E, no fim, foi o que se viu: os desgraçados voltaram como antigamente. Roídos de beribéri, de maleita, magros e famintos. Dinheiro, nem um tostão. E os arrebanhadores de gente, ricos com casa na cidade.” (João Clímaco Bezerra)
O uso da vírgula é tema que causa preocupação em muitas pessoas. Há quase 1 milhão de resultados no Google sobre vírgula! Nesta coluna, também, é tema que sempre se faz presente. Mas se é algo tão estudado, como ainda não foi assimilado? Talvez seja porque a informação sobre esse tópico seja construída com listas de regras difíceis de compreender, ou porque se gasta muita energia com usos arcaicos… ou outro motivo… ou pela fama de poderosa que a vírgula tem… qual é o seu motivo?
Para saber usar a vírgula, uma dose de conhecimento sintático é fundamental: o básico mesmo. Afinal, se não se sabe o que é sujeito ou o que é predicado, de que adianta saber uma regra de não uso da vírgula que diz: não se separa por vírgula o sujeito do predicado? Ou também: usa-se vírgula no começo das orações coordenadas assindéticas adversativas. Sabe o que significa “não se separa” nesse contexto? Quer dizer que não pode ter uma vírgula entre o término do sujeito e o começo do predicado. Tudo no texto escrito, porque na fala a vírgula pode ser pausa.
Então, é importante saber que:
a) vírgulas não separam termos essenciais da oração;
b) vírgulas isolam termos explicativos;
c) vírgulas marcam alteração da ordem canônica sujeito-verbo-objeto-circunstância.
Como essas três informações muito claras é possível raciocinar e acertar no uso da vírgula. Muito importante: vírgulas não marcam respiração!
Vamos lá!
Em “As meninas que estavam com vestido verde, foram as primeiras a chegar”, a vírgula separa termos essenciais, assim como em “O juiz proclamou também, a sentença do réu”. Então, os dois exemplos estão errados.
Em “João, que batizou o primo, foi assassinado por Herodes”, “As folhas, por exemplo, brancas e vermelhas ficam aqui”, “Mário, o moço que traz o pão, não veio hoje”, há exemplos de vírgulas que isolam termos explicativos, tudo certinho.
E a alteração da ordem canônica? Fica assim: “Na semana passada, viajamos”, “O remédio, eu o trouxe”, “Deve-se dar, a ele, a documentação”.
E o resto das ocorrências? Há duas que merecem destaque, por causa da frequência de ocorrência nos textos:
a) vírgula antes do “e”: é certo usar vírgula apenas quando os sujeitos das orações ligadas por essa conjunção forem diferentes: “A menina fez o dever, e a amiga não”, “A menina fez o dever e arrumou a mala” está certo, porque os sujeitos são os mesmos.
b) vírgula em dupla: em muitos casos, para o texto ficar certo, a vírgula precisa estar em par: “As crianças participarão dos jogos e, também, do acampamento”, “Verde e vermelho são, respectivamente, a cor da blusa e a da calça”. Se tiver uma vírgula só nesse contexto, está errado.
Se tiver alguma dúvida durante o expediente, pode mandar para dicasdeportugues@cnj.jus.br.
Para encerrar, um exemplo do poder da vírgula:

Uma semana deliciosa!
Carmem Menezes
Revisora de Texto da Secretaria de Comunicação Social
