Novo mês começando… logo o ano termina… começamos com redação oficial e vimos como se estruturam ofício, portaria e resolução, ata, instrução normativa e relatório. Na primeira semana de junho, o assunto desta coluna foi texto argumentativo, parte 1. E a ele voltamos, com mais algumas considerações e um desafio. Afinal nas provas dissertativas da vida, em 30 linhas, temos de argumentar e, quem sabe, convencer.
O texto que quer defender um ponto de vista não deveria pautar-se nem por achismos nem por subjetividade, mas ser construído por argumentos baseados no senso comum, em citações de fontes reconhecidas, em evidências e em raciocínio lógico.
A palavra “texto” vem do latim “textus”, que é particípio passado do verbo “texere”, cujo significado era “maneira de tecer”. Sim, é a mesma palavra que dá origem à palavra “tecido”. Você já reparou que os tecidos são constituídos pelo entrelaçamento de palavras, tanto no nível morfológico quanto no sintático? Daí a relevância da coesão, a “cola” que junta isso tudo em um todo harmônico. Por isso que texto argumentativo não é patchwork.
O texto argumentativo básico de concursos públicos é formado por quatro parágrafos, na seguinte ordem: 1.º introdução; 2.º e 3.º desenvolvimento; 4.º conclusão. Cada um com umas 6, 7 linhas de extensão. Nesse contexto, até a harmonia dos parágrafos conta ponto.
Na vida real, editoriais de jornais são textos argumentativos. Segue um exemplo, publicado hoje no jornal Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/09/1508894-editorial-a-logica-do-pib.shtml):
Um comentarista esportivo talvez dissesse que deu a lógica. A queda do PIB do segundo trimestre reitera o fracasso da política econômica no governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
A contração foi de 0,6% na comparação com os três meses anteriores. Em relação ao mesmo período de 2013, houve redução de 0,9%. É um dos piores resultados do mundo. Nesse intervalo, os EUA e até a letárgica Europa avançaram 2,5% e 1,2%, respectivamente.
Mesmo a periferia europeia, prostrada pela crise, saiu-se melhor. O Brasil aparece atrás da Itália (-0,3%) e da Grécia (-0,2%). Na América Latina, México e Chile, por exemplo, cresceram 1,6% e 1,9%.
Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em atribuir o mau desempenho à crise internacional. Não faz sentido, assim como é de somenos discutir se o resultado configura recessão – segundo o IBGE, as duas reduções podem ser revisadas no futuro.
O mais importante é observar a sensação de desalento que se espalhou pelo país, um debate que interessa menos para o ministro. Os componentes do PIB, afinal, mostram um quadro preocupante: caíram tanto o investimento como a poupança interna, e as duas taxas (como proporção do PIB) estão em patamares historicamente baixos.
Esse é o problema real. O Brasil não consegue poupar nem investir o suficiente para acelerar o crescimento da economia, sem o que não superará suas mazelas sociais.
O fato de não conseguir fazer isso está diretamente ligado às medidas do governo nos últimos anos, que bagunçaram o ambiente de negócios e solaparam a confiança de empresários e consumidores.
Nem mesmo o gigantismo do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal foi capaz de destravar o investimento, justamente o item que deveria ter sido o principal vetor de crescimento dos últimos anos.
Para Mantega, sem os aportes de R$ 360 bilhões do Tesouro no BNDES – recursos que foram repassados a empresas com juros subsidiados–, o quadro seria pior. Que seja. Os resultados são pífios, em todo caso, sobretudo se considerados o tamanho da intervenção e os custos para o contribuinte.
O governo, entretanto, continua a negar a realidade, estimando um crescimento irreal. Na proposta de lei orçamentária de 2015, consta que a economia avançará 3%, enquanto a projeção média dos analistas fica em torno de 1%.
A esta altura, poucos ainda confiam nos cálculos e na conduta da equipe econômica. É difícil superestimar os prejuízos de tal descrença para o país.
Ficou com vontade de argumentar? Desafio: escreva o texto com até 2.000 caracteres e mande-o para dicasdeportugues@cnj.jus.br. Correção e sigilo garantidos.
Uma semana de esforços que compensam!
Carmem Menezes
Revisora de Texto da Secretaria de Comunicação Social
