A língua do Nhem

Na brevíssima semana passada, começamos a tratar de artigos. Se você ainda não leu, veja aqui. Nesta semana, enfocamos alguns detalhes desta classe de palavra tão pequenininha, mas que pode dar um trabalhão.

 

Uma característica ímpar dos artigos é a determinação. Muito diferente é alguém dizer que “encontrou uma menina” ou “encontrou a menina”. Também é incrível a capacidade de uma palavra tão exígua transformar no importante substantivo qualquer palavra ou expressão que lhe subsiga: um amanhecer, o sim, o quê. Artigos também marcam o gênero e o número dos substantivos (tratamos disso nos textos Juntando as peças do quebra-cabeça e A substância do substantivo). 

Gramáticos citam alguns empregos particulares dos artigos:

– como demonstrativos: exemplo: “Permaneceu a [=esta] semana em casa.”.
– pelo pronome possessivo: exemplo: “Passei a mão pelo queixo. [= Passei minha mão pelo meu queixo].
– antes de pronome possessivo: dizer “encontrei a minha mãe” ou “encontrei minha mãe” é mais variação regional que problema gramatical. Importante é que nunca o artigo é empregado antes de pronome de tratamento ou vocativo, ou, ainda, antes de expressões como “em meu poder”, “por minha vontade”.
– em expressões de tempo: não há artigo antes do nome dos meses, mas há antes dos dias da semana e das quatro estações do ano.

Há ainda outros detalhes que tornam a nossa língua muito rica e diversificada. São características que realmente precisam ser usadas, para que “A língua do Nhem” não se propague além da vizinha da velhinha…

A Língua do Nhem
Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.

E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem…

O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também

a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem…

Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,

e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem…

De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém,

ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem…

Um ótimo começo de mês!

Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social

 

PS: só para você não se esquecer: dicasdeportugues@cnj.jus.br