“A tristeza vai transformar-se em alegria, / E o sol vai brilhar no céu de um novo dia” Cartola
Há duas semanas, deixamos para trás a morfologia e chegamos à sintaxe, primeiro com a distinção entre frase, oração e período e depois com a descrição dos tipos de sujeito. Considerando a ordem SVO, estávamos no lado direito da oração, em relação ao verbo. Nesta semana, vamo-nos colocar à esquerda do verbo. O assunto é transitividade verbal e complementos verbais.
Os verbos, na morfologia, têm conjugação. Na sintaxe, têm ou não transitividade. Se o verbo servir para estabelecer a união entre duas palavras ou expressões de caráter nominal e não trouxer ideia nova ao sujeito, sendo apenas elo entre o sujeito e seu predicativo (um tipo de adjetivo), ele é um verbo de ligação, que ocorre em um predicado nominal, como nos exemplos a seguir: “Eu sou tua sombra”, “Joana permaneceu calada”, “João estava cansado”.
A maioria dos verbos tem significado próprio, declara algo sobre o sujeito e ocorre em um predicado verbal. Às vezes, esses significados são absolutos, autocentrados, e os verbos não têm transitividade, ou seja, não precisam de outras palavras a lhes completar o sentido, como em “O sol vai brilhar”, “Os juízes chegaram”, “A criança sorriu”. Esses verbos são chamados de intransitivos. Já se a ação do verbo vai além dele e transita para outra palavra que lhe completa o sentido, tem-se um verbo transitivo. Se essa complementação ocorre na ausência de uma preposição, há um verbo transitivo direto e a palavra que lhe complementa é o objeto direto. Se há preposição, a NGB chama o verbo de transitivo indireto e o seu complemento de objeto indireto. Vamos aos exemplos:
– A cozinheira aspirava o perfume do refogado (verbo “aspirava”, transitivo direto; “o perfume do refogado”, objeto direto).
– Os presos aspiram à liberdade em pouco tempo (verbo “aspirar a”, transitivo indireto; “a liberdade”, objeto indireto).
Há também verbos cuja transitividade é mais complexa e são dois os complementos, como em “A tristeza transforma-se em alegria”. Discussão curiosa sobre a natureza desses complementos está na Gramática Escolar da Língua Portuguesa, de E. Bechara.
Para o assunto ficar mais interessante, ambos os objetos podem ser pleonásticos, ou seja, apesar da presença do objeto direto, há um pronome que o recupera: “As flores, via-as todos os dias”, em que “As flores” é o objeto direto e “as” é o objeto direto pleonástico.
Há também verbos cujo sentido se modifica a depender da transitividade, como “aspirar, assistir, visar”. Quando são empregados, é importante ter em mente o sentido pretendido e verificar se é necessária, ou não, a preposição. Quanto ao verbo “assistir”, apesar das mudanças linguísticas que vêm ocorrendo, ainda é de regra o emprego da preposição no sentido de “ver, presenciar”.
Saber isso tudo serve para o emprego correto da vírgula principalmente. Também serve para identificar a necessidade ou não de preposição, como no caso dos verbos cujo sentido se modifica de acordo com a transitividade. Serve também para saber se tem ou não preposição antes do pronome relativo.
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Uma semana com muitos predicados!
Carmem Menezes
Revisora de texto da Secretaria de Comunicação Social
