Próclise, mesóclise e ênclise

Semana passada, enfocamos os pronomes pessoais, relacionando-os às três pessoas do discurso. Demos as três classificações dos pronomes e dissemos que o perigo morava com os pronomes pessoais oblíquos átonos, porque com eles é que se pode falar de três fatos linguísticos exclusivos: a próclise, a mesóclise e a ênclise.

Os pronomes oblíquos átonos são: “me; te; o/a, lhe; nos; vos; os/as, lhes”. Ser átono, como já sabemos, é não ter tonicidade, ser uma palavra tão fraquinha que corre o risco de desaparecer na enunciação… Por isso, para que permaneça e seja audível, deve apoiar-se em outras palavras tônicas ou átonas. Aqui, a lei da matemática “menos com menos dá mais” também vale.

Assim, os pronomes pessoais oblíquos átonos podem estar em três posições em relação ao verbo – sempre ele e só ele –, já que exercem a função sintática de complemento verbal sem proposição:

– antes: próclise. Exemplo: Eu me vesti rapidamente. (o pronome pessoal reto “Eu” forma grupo de força com o pronome pessoal oblíquo átono “me”)

– no meio: mesóclise. Exemplo: O padeiro encontrar-se-á disponível para esclarecimentos. (ocorre tão somente com verbos conjugados no futuro do indicativo, por motivos históricos, não frescura. Escreva para dicasdeportugues@cnj.jus.br e receba a explicação)

– depois: ênclise. Exemplo: Os homens casaram-se todos antes dos 30 anos.

O lugar favorito do pronome é depois do verbo: a ênclise. O pronome só sai de sua posição natural enclítica se houver um elemento linguístico muito forte que o atraia, o famoso fator de próclise. Então, na dúvida, use a ênclise.

E quais são os principais fatores de próclise?

– Outros pronomes (“eu, algum, que, quanto” etc.);

– Partículas negativas (“não, nenhum, nada” etc.); e

– Conjunções subordinativas (“porque, enquanto, se, embora, a fim de que” etc.)

E com locução verbal? Para verbo + infinitivo ou verbo + gerúndio, use ênclise ao infinitivo. Se for verbo + particípio, use ênclise ao verbo. Quer saber o motivo dessa sintaxe de colocação com as locuções verbais? Mande-nos outro e-mail, sempre para dicasdeportugues@cnj.jus.br.

Ok. Mas essa é a verdade verdadeira?

É a verdade da gramática normativa tradicional que rege os textos escritos formais em língua portuguesa. Verdade que vale para a comunicação oficial do CNJ, os relatórios e processos internos e externos e, também, textos acadêmicos e de processos seletivos. Fora desses contextos, a história é bem diferente, tanto na fala quanto na escrita, porque, neste nosso país, os pronomes átonos estão ficando tônicos…

 

Uma semana bem colocada!

Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social