O estudo da língua portuguesa é interessante, porque sempre há uma novidade que deixa tudo mais surpreendente. A classe de palavras que nos vai acompanhar por quatro semanas – verbos – traz marcas morfológicas e semânticas exclusivas muito, muito motivadoras.
Tradicionalmente, verbos são definidos como palavras que indicam ação. Ok, mas… qual é a ação que há em “ser”? ou em “parar”? Então, definamos verbo não como a gramática tradicional escolar o faz, mas, sim, como uma palavra que exprime algo localizado no tempo e que é, preferencialmente, o núcleo do predicado.
A classe de palavra dos verbos é formada por incontáveis palavras. Não dá para saber quantas há, porque todos os dias novos verbos são criados em língua portuguesa e outros deixam de ser usados, tendendo ao desaparecimento. Se considerarmos a conjugação completa de cada um desses verbos no infinitivo, aí é que perdemos a conta mesmo. Sem dúvida, é a maior classe de palavras e divide com os substantivos o número 1 em importância linguística. Não há mundo significado por uma língua sem substantivo e sem verbo, mas há sem numeral ou pronome.
Verbos classificam-se sob vários critérios:
– conjugação: 1ª (verbos em -ar), 2ª (verbos em -er) e 3ª (verbos em -ir);
– paradigma de conjugação: regular, irregular, defectivo e abundante; e
– função: principal e auxiliar.
Verbos têm voz: ativa, passiva, média e reflexiva.
Verbos têm flexão de número e pessoa – como os pronomes – e de modo, tempo, aspecto e voz – a grande exclusividade dessa classe. O divertido é que cada flexão dessas é marcada por um morfema diferente e o incrível é que, fora da escola, demoramos uns 4 anos desde o nascimento, no máximo, para aprender tudo sobre isso, mas, dentro da escola, a vida inteira se passa… Assim, temos:
– desinências número-pessoais: Ø, -s, Ø, -mos, -is, -m.
– desinências temporais (entre outras): -va-, -ra-, -ste, -sse-, -ia.
Vamos às partes: tomemos um verbo de primeira conjugação e juntemos a ele o máximo de desinências que a língua portuguesa nos permite, na ordem canônica do português padrão:
CANTÁVAMOS, em que:
– radical (o núcleo do significado): cant-
– vogal temática (marca a conjugação): -a-
– desinência modo-temporal do pretérito imperfeito do indicativo (tempo e modo): -va-
– desinência número-pessoal da 1ª pessoa do plural: -mos
Finalmente, vemos a economia linguística simplificando nossa vida, ao acumular vários elementos significativos relevantes em poucas letrinhas!
Pergunta: os verbos estão sendo afetados pela mudança nos pronomes pessoais retos? Sim e muito, como já explicamos aqui, considerando que essas mudanças simplificam o desafiador sistema de conjugação verbal português. Quer se aprofundar nesse assunto? Leia este artigo científico de primeira.
Quer começar a ver o verbo como elemento textual-discursivo, algo muito interessante? Esta tese é seminal.
Quer continuar descobrindo coisas incríveis? Quem sabe aqui, na psicanálise, ou ainda aqui, no jornalismo.
Quer mandar alguma pergunta? Escreva para dicasdeportugues@cnj.jus.br.
Solte o verbo nesta semana!
Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social
