Substantivo

Faz existir 

Neste mês de março, vamos falar sobre substantivo, aquela classe de palavras que nomeia os seres e que sempre recebe novos membros. Sempre tem alguém criando uma palavra nova, como Marcelo, no livro “Marcelo, marmelo, martelo”. Inspirados nele, podemos chamar “cadeira” de “sentador” e “celular” de “falador móvel”.

 

Os substantivos são usados também para construir novos significados, como na música “Cultura”, de Arnaldo Antunes: “O girino é o peixinho do sapo / O silêncio é o começo do papo / O bigode é a antena do gato / O cavalo é pasto do carrapato / O cabrito é o cordeiro da cabra / O pescoço é a barriga da cobra / O leitão é um porquinho mais novo / A galinha é um pouquinho do ovo / O desejo é o começo do corpo / Engordar é a tarefa do porco / A cegonha é a girafa do ganso / O cachorro é um lobo mais manso / O escuro é a metade da zebra / As raízes são as veias da seiva / O camelo é um cavalo sem sede / Tartaruga por dentro é parede / O potrinho é o bezerro da égua / A batalha é o começo da trégua / Papagaio é um dragão miniatura / Bactérias num meio é cultura”.

Também é possível construir um texto com significado utilizando-se apenas substantivos, como neste trecho da música “Criança não trabalha”, de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit: “Lápis, caderno, chiclete, peão / Sol, bicicleta, skate, calção / Esconderijo, avião, correria, / Tambor, gritaria, jardim, confusão / Bola, pelúcia, merenda, crayon / Banho de rio, banho de mar, / Pula sela, bombom / Tanque de areia, gnomo, sereia, /  Pirata, baleia, manteiga no pão / Giz, merthiolate, band aid, sabão / Tênis, cadarço, almofada, colchão / Quebra-cabeça, boneca, peteca, / Botão. pega-pega, papel papelão”.

Há ainda substantivos contáveis e não contáveis, sabia? Os contáveis referem-se a grandezas discretas e descontínuas, heterogêneas, suscetíveis de contagem e de pluralização, como rua, tijolo, papel, caderno, etc. Os não contáveis referem-se a grandezas contínuas, entidades que não são numeráveis nem divididas, como açúcar, café, em trechos como “queria uma xícara de açúcar e outra de café”.

Em termos de classificação, também há fartura, como se vê nos versos a seguir, com a classificação e o exemplo respectivo: “Primitivo e derivado: jornal e jornalista. / Simples e composto: sol e girassol. / Próprio e comum: Pedro e café. / Concreto e abstrato: pedra e alegria / E os coletivos: alcateia, fauna, flora / Galeria, assembleia, esquadrilha e legião / Mais coletivos: bateria, batalhão, colmeia, cordilheira. / Revoada e multidão. / E quanto aos gêneros? / Gênero biforme: feminino e masculino. / Gênero uniforme: apenas uma forma / E pode ser epiceno: a cobra, o gavião, a girafa e o jacaré. / Comum de dois: / Jornalista, pianista, jovem, artista. / Sobrecomum: a pessoa, o indivíduo, o cônjuge e a testemunha.

Por fim, cabe um lembrete: uma palavra existe em uma língua quando constrói significado para uma comunidade, mesmo antes de aparecer no dicionário oficial, ou seja, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sendo compartilhada pelas pessoas.

Quer sugerir, opinar ou tirar uma dúvida? Escreva para dicasdeportugues@cnj.jus.br.

Uma semana generosa!

 

Carmem Menezes

Revisora de Texto da Secretaria de Comunicação Social