Nesta semana, vamos estudar alguns detalhes referentes à colocação pronominal e à pontuação. Quando à colocação pronominal, a estrita teoria gramatical já foi explicitada aqui e aqui. No que se refere à pontuação, muito já se falou aqui, aqui e aqui.
Assim, você já sabe que os pronomes átonos precisam de apoio tônico de um verbo, por exemplo, para que não desapareçam na cadeia na fala. Esse apoio dá-se com a ênclise, colocação que é o padrão na nossa língua. Só em Portugal.
Aqui no Brasil, a pronúncia é muito diferente da pronúncia em Portugal. Muitas vezes torna-se difícil compreender o que os portugueses falam. Um dos motivos é a tendência que há aqui de pronunciar abertamente as vogais, o que as pode tornar tônicas. Além disso, estudos mostram que, à época do Descobrimento, Cabral e seus contemporâneos empregavam os pronomes principalmente em próclise, registro esse que criou raízes no Brasil e que – também por todo o processo de colonização – provoca diferenças entre cá e lá especialmente quanto à sintaxe de colocação. Houve evoluções distintas da mesma língua que a tornaram quase duas línguas diferentes.
Para ilustrar, vejamos o seguinte: paletó e gravata fazem parte da rotina no Judiciário, mas a gravata do dia a dia não é a mesma usada na reunião extraordinária na SG ou em um casamento, não é verdade? Igualmente, embora a próclise seja aceita em muitos contextos (como nas matérias da Agência CNJ de Notícias), em outros, como Atas, Resoluções, Portarias, Relatórios, torna-se inadequada. Isso tem a ver com o grau de formalidade que se quer dar ao texto ou que ele exige.
Então, cabe dizer “Eu quero-lhe falar / Eu lhe quero falar / Eu quero falar-lhe”. Qual é a menos formal? Qual é a mais formal? Nessa batalha linguística que estamos vivendo, o mais importante é associar correção à adequação, com vistas a construir texto efetivo e correto.
Fundamental: não se começa oração com pronome átono em textos escritos reais, na vida escolar e profissional, fora do celular: “Ensinei-a o caminho / Ela estava triste; buscou-me assim mesmo”. Descumprir essa regra é tão inadequado quanto vir trabalhar com a gravata do Mickey, por exemplo.
Quanto ao vocativo, sempre é separado por vírgula, independentemente do lugar em que ocorra na oração: “Atenção, pessoal! / Diga, Thiago, onde está? / Gente, vamos prestar atenção!” Assim, nos atos administrativos, sempre há vírgula depois do vocativo.
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Uma semana excelente!
Carmem Menezes
Revisora de Texto da Secretaria de Comunicação Social
