Um pouco de técnica sobre poemas

Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida

Carlos Drummond de Andrade

 

Está aberto um sarau virtual na intranet do CNJ. Você pode mandar para comunicação@cnj.jus.br seus versos favoritos e vê-los publicados, compartilhando-os com seus colegas. E, nesse contexto, vamos destacar alguns pontos técnicos de análise desse gênero textual.

A primeira pergunta a ser respondida é: qual a diferença entre poesia e poema?

Poesia é o conteúdo imaterial de algo, capaz de fazer aflorar emoções em que o vê. Assim, há poesia em um poema, mas também em um bebê, um pôr-do-sol, um casal apaixonado… No seu livro “Conceito de poesia”, Pedro Lyra afirma que “o poema é um objeto empírico e se a poesia é uma substância imaterial, é que o primeiro tem uma existência concreta e a segunda não. Ou seja: o poema, depois de criado, existe per si, em si mesmo, ao alcance de qualquer leitor, mas a poesia só existe em outro ser: primariamente, naqueles onde ela se encrava e se manifesta de modo originário, oferecendo-se à percepção objetiva de qualquer indivíduo; secundariamente, no espírito do indivíduo que a capta desses seres e tenta (ou não) objetivá-la num poema; terciariamente, no próprio poema resultante desse trabalho objetivador do indivíduo-poeta” (LYRA, Pedro. Conceito de Poesia. São Paulo: Ática, 1986).

Poema é o conteúdo formal, o texto estruturado escrito em versos e estrofes.

Sendo o poema constituído de versos, há vários termos técnicos relacionados à melodia – sinalefa, crase, ectlipse – à medida das palavras – sinérese, diérese, crase, aférese, síncope e apócope –, à rima – perfeita e imperfeita, rica e pobre – e à tipologia das estrofes. Há também poemas de forma fixa, como o Soneto de Fidelidade, publicado nesta segunda na intranet. Um soneto italiano como aquele é constituído por 14 versos decassílabos ou alexandrinhos, agrupados em duas quadras e dois tercetos.

Destaque para algo que você leu atrás: crase. Sim, é a mesma crase que causa arrepios naqueles que querem escrever um português escorreito. Crase define-se como um fenômeno fonológico em que duas vogais subsequentes e idênticas fundem-se em uma só. Assim, no verso “Tinhas a alma de sonhos povoada”, no trecho “a alma” ocorre crase, e isso é significativo para a contagem de sílabas. No trecho “João entregou a a menina as cartas”, a crase da preposição com o artigo é tão significativa que é marcada por um acento gráfico, o acento grave.

Dúvidas, perguntas, elogios, comentários? Escreva para dicasdeportugues@cnj.jus.br.

Uma semana entusiasmada para você!

Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social