Na semana passada, tratamos de verbos cuja conjugação não é completa – os defectivos – ou é duplicada – os abundantes. Nesta semana, nosso foco volta-se para os famosos verbos impessoais, presentes nas igualmente famosas orações sem sujeito.
Pensemos no nome que os classifica: impessoais. Assim, seriam verbos que não se flexionam quanto à pessoa. Mas, se são usados apenas na terceira pessoa do singular, eles têm uma pessoa e não são impessoais. Verbos como “chover, amanhecer, ventar, trovejar” pertencem a esse grupo.
Saiamos um pouco da gramática tradicional que apresenta essa nomenclatura. Em outras línguas, como o inglês e o francês, por exemplo, há um pronome neutro que ocorre com esses verbos. Temos, então: “Chove. It rains. Il pleut.” Uma teoria linguística, chamada de gerativa, diz que verbos de fenômenos da natureza, nas línguas conhecidas, podem ter sujeito expresso e marcado (como em inglês, com “it”, ou em francês, com “il”) ou terem uma marca nula (como o português) para a posição de sujeito – nada é falado, mas o espaço do sujeito está lá: tanto está que o verbo aparece flexionado. Essa explicação provavelmente ajuda você a compreender um paradoxo da aula de português escolar: se o sujeito é termo essencial da oração, como pode haver oração sem sujeito? Resposta: não há. Toda oração tem sujeito, mesmo que ele não seja expresso. Quer falar mais sobre isso? Escreva para dicasdeportugues@cnj.jus.br.
Então, seguindo a classificação tradicional, em orações como “Choveu. Amanhece. Nevaria.”, não há sujeito. (Completando com a gerativa: não há sujeito expresso fonologicamente.)
Além dos verbos de fenômenos da natureza, são impessoais:
– “haver”, na acepção de “existir”. Exemplo: “Houve aprovados na prova”; e
– “fazer”, na acepção de tempo decorrido. Exemplo: “Faz cinco minutos que estamos sem internet”.
Os verbos unipessoais são aqueles que designam vozes ou ações de animais e só aparecem na terceira pessoa do singular ou do plural, em virtude de sua significação. Por exemplo: ladrar, rosnar, zurrar. Clique aqui para ver e ouvir algumas vozes de animais.
Por fim, um detalhe prático sobre o verbo “haver”. Hodiernamente, na língua portuguesa do Brasil, para a maior parte dos usos dos falantes, esse verbo ocorre como impessoal, no sentido de “existir”, portanto no singular: “Há pessoas aqui. Havia motivos para isso. Houve feridos no ataque. Haverá muitos jogadores à espera.”. O outro uso desse verbo, pouco frequente, é como auxiliar, quando apresenta conjugação completa: “Ele havia chegado cedo. Eles houveram trazido o material. Os convidados haverão conquistado prêmios.”. Quer saber mais ainda? Leia sobre o verbo “haver” e a psicanálise.
Uma semana quente!
Carmem Menezes
Revisora de Textos da Secretaria de Comunicação Social
