Voz passiva: quando o sujeito está à esquerda

Na semana passada, tratamos de brasileirismos lexicais, aquelas palavras criadas no Brasil ou cujo significado tornou-se diferente aqui. O assunto desta semana é um brasileirismo sintático: ausência de concordância na voz passiva.

Sobre concordância verbal, propusemos um raciocínio que serviria para identificar o sujeito e seu número e, assim, flexionar o verbo corretamente.

Retomemos: há duas vozes verbais catalogadas nas gramáticas normativas tradicionais: a ativa, em que o sujeito faz a ação exercida pelo verbo; e a passiva, em que o sujeito sofre a ação expressa pelo verbo. (Essas definições são muito tradicionais e suas limitações não serão expostas agora.) E há dois tipos de voz passiva: a analítica, formada pelo verbo “ser” seguido do verbo no particípio; e a sintética, formada por “se”, aqui conhecido como partícula apassivadora. Nem todos os verbos têm voz passiva, mas apenas os verbos cujo complemento não é precedido por preposição, ou seja, os verbos transitivos diretos.

Assim, da voz ativa “Maria vendeu a casa”, tem-se “A casa foi vendida por Maria” e “Vendeu-se a casa”. Além das diferenças estruturais entre ambas as formas de voz passiva, há diferença pragmática: na primeira, ainda se conta quem é o agente, apesar de não ser tão relevante; na segunda, o agente é tão irrelevante que é omitido.

E agora o mais complicado: na voz passiva sintética, o verbo concorda com o sujeito sintático, que está posposto, à esquerda quase sempre. Normalmente, a concordância correta só é feita com a releitura do texto e a revisão do que já foi escrito.

Como estamos diante de um brasileirismo sintático, ocorre o seguinte: no Brasil, na maior parte das ocorrências de voz passiva sintética com sujeito no plural, não há concordância verbal. O verbo fica no singular e o sujeito, no plural. Mas, mesmo com frequência alta desse uso genuinamente brasileiro, nos seus textos da vida profissional, vale a regra tradicional portuguesa. Fique de olhos abertos e raciocínio ligado! E não suma com o “se”, como em “Naquele dia vendeu a casa” no lugar de “Naquele diz se vendeu a casa”. Percebe a mudança de sentido entre as duas orações?

 

Na próxima semana, temos exercícios sobre esse assunto. Por agora, basta não esquecer que só há voz passiva com verbo transitivo direto.

À disposição pelo e-mail dicasdeportugues@cnj.jus.br.

 

Uma semana ativa!

 

Carmem Menezes

Revisora de Texto da Secretaria de Comunicação Social