Gastar menos e viver melhor…

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Ao longo dos últimos anos, tenho observado que o nível de desperdício tem aumentado muito em vários segmentos sociais e setores da economia, contrariando tudo que vem sendo falado em torno da preservação do meio ambiente, dos recursos naturais, renováveis e não renováveis etc.

 

O mais interessante e preocupante é que esse desperdício não ocorre apenas no Brasil. Agora mesmo estou encerrando uma visita aos EUA, o país dos descartáveis, e tenho observado situações no mínimo paradoxais com a cultura norte-americana. Exemplo: o guardanapo de papel descartável na maioria dos restaurantes, depois de aberto, é maior do que uma folha de papel A3, ou seja, seria possível atender quatro clientes sem qualquer comprometimento da qualidade do serviço. Outro exemplo notório é o tamanho do copo descartável utilizado no “cafezinho” coado, que tem um volume médio de 300 ml. Estou me referindo, apenas, ao setor de gastronomia, deixando de lado o consumo exagerado de combustível automotivo, por exemplo.

Por outro lado, temos de tirar o chapéu para o cuidado e o tratamento que os norte-americanos dão aos recicláveis. É impressionante a consciência de todos, independentemente de nível cultural, social ou econômico, se é estrangeiro ou não, idade, todos contribuem, isto é, cada um faz a sua parte e todos ganham. O espírito colaborativo do povo americano é algo que precisamos desenvolver no Brasil, onde, infelizmente, o individualismo se amplia a cada dia e a “Lei da Vantagem em Tudo” prevalece.

E no Brasil, como estamos em matéria de direitos e obrigações?

Como anda a consciência ecológica de nossa população?

O que tem sido ensinado a esse respeito nas escolas, públicas e privadas?

Que tipo de cidadão está sendo formado?

E as empresas ou organizações brasileiras, têm investido em educação corporativa?

E o serviço público brasileiro merece que nota de 1 a 5?

Na verdade, seria muito fácil listar pelo menos mais 100 perguntas, mas vou deixar isso como seu “dever de casa” e vou abordar, nesta oportunidade, apenas, alguns aspectos que são visível e terrivelmente preocupantes. Veja:

1.º A maioria das empresas, micro, pequenas, médias ou grandes, pratica como “rotina” e por falta de rotinas e processos, em alta escala, o famigerado “retrabalho”, aumentando significativamente seu custo operacional, levando-as à prática de preços absurdamente elevados, totalmente fora da realidade do mercado, transferindo esses custos para o consumidor.

Um exemplo muito curioso que posso citar aconteceu em um restaurante, onde constatei, durante um trabalho de consultoria, que todos os copos de suco saíam da cozinha com dois canudinhos. Perguntei ao proprietário do estabelecimento se ele já havia observado e ele respondeu que sim e que os clientes gostavam que fosse daquela forma. Diante da situação, fiz um cálculo simples e apresentei “a conta” que ele estava pagando desnecessariamente, ou seja, um custo onerado em 100%.

Na mesma cidade tive outra experiência muito interessante de desperdício de matéria-prima, ocupação de equipamento (hora/máquina), energia elétrica e mão de obra. Determinada empresa de comunicação visual desperdiçava 30% ou mais de sua produção, simplesmente, pela falta de uma rotina de atendimento, que permitia que qualquer serviço fosse para a produção sem a devida revisão, ou seja, os erros de grafia, omissão de dados, aplicação de cores etc. só eram percebidos depois das peças impressas. Neste caso, é interessante observar, ainda, que além da elevação do custo de produção, a insatisfação do cliente com o descumprimento de prazos e a baixa qualidade é imensurável.

Agora, faça uma projeção considerando esses dois exemplos, multiplicados por mais de 2 milhões de empresas que operam utilizando o “achômetro” como seu principal indicador de desempenho operacional, sem qualquer critério de avaliação de custo, programação de estoque, precificação etc. E, se observarmos os desperdícios indiretos, como custo financeiro, chega a assustar e fica difícil entender como essas empresas sobrevivem.

2.º Olhando para o consumidor final, temos um quadro ainda mais grave em termos de desperdício. O consumo de energia elétrica, por exemplo, segundo especialistas, pode ser reduzido sensivelmente a partir de uma simples medida de adequação: trocar as lâmpadas incandescentes por fluorescentes. Essa medida, além de gerar economia, melhora a qualidade da iluminação e reduz o calor em qualquer ambiente. O exemplo citado é apenas um em meio a diversos outros, como o consumo de água, materiais descartáveis etc.

Agora, vamos fazer um cálculo muito simples: imagine o Brasil com uma população de 180 milhões de pessoas, dispostas a colaborar com a construção de um Planeta melhor e todos se dispusessem a reduzir o consumo de água em apenas 2 litros por dia, durante um mês. O resultado proporcionaria uma redução de 10,8 bilhões de litros de água/mês. Isso é possível? Claro que sim. Depende, apenas, da vontade de colaborar.

Outra reflexão que gostaria de propor é a seguinte: consideremos que no Brasil 120 milhões de pessoas trabalham e/ou estudam e que todas assumissem o compromisso de reduzir o consumo de papel em apenas uma folha A4 por dia, durante um mês. Resultado: 3,6 bilhões de folhas ou 172,8 mil toneladas de papel offset 75 g/m²/mês. Isso é possível? Claro que sim. Basta usar as duas faces do papel e utilizar rascunho quando for possível e não imprimir o que não for necessário.

É evidente que você que está lendo este artigo deve está pensando que falar é fácil, difícil é fazer. Concordo com você, mas gostaria de lembrar que há pouco tempo o Brasil passou por uma situação que obrigou toda população reduzir o consumo de energia e todo mundo “contribuiu” para não ser penalizado com o pagamento de multas pesadas, lembra? E, por que não fazemos sem a ameaça de multa?

A falta de consciência e o individualismo, associados à falta de educação, são os principais responsáveis por tudo que estamos passando no Brasil. Nós, brasileiros, precisamos pensar e agir como verdadeiros cidadãos, cumprindo com nossos deveres e exigindo nossos direitos, sobretudo perante o serviço público, em todos os níveis e esferas de poder. Chega de conformismo. Nosso país pode ser muito melhor do que é atualmente.

 

Alexandre Costa

Pedagogo Organizacional

Personal & Professional Coach