Ao contrário do que se prega comumente por aí, eu defendo a tese de que ninguém é substituível. O ser humano, por mais que seja visto como força de trabalho pela ótica socioeconômica, é absolutamente único, enquanto marca espiritual divina. Exatamente por isto cada um de nós será único em tudo que fizer, ainda que outros milhares também possam fazer o mesmo ou até melhor.
O paradigma do trabalhador como mera peça de uma engrenagem ganhou força no século 18 com a Revolução Industrial. No filme “Tempos Modernos” Charles Chaplin aborda este tema de forma magistral. Os operários de uma fábrica perdem a altivez dos artesãos, que são partes integrais de suas obras, para se tornar extensões das máquinas que ajudam a operar. Neste contexto, Chaplin deixa para reflexão uma de suas célebres frases: “Não sois máquinas! Homens é que sois!”.
Dia desses recebi um e-mail (daqueles sem autoria) com uma abordagem interessante sobre o chavão “ninguém é insubstituível”. No texto é mencionada uma sala de reunião de uma multinacional, onde o diretorgeral, bastante nervoso, fala com sua equipe de gestores. “Ele agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um, ameaça: ‘ninguém é insubstituível’”.
Essa frase é tão contundente que, aparentemente, não cabe qualquer contra-argumento. Ela parece estar no mesmo patamar do “não somos imortais”. Contestá-la pode soar arrogante, pretensioso.
Na história do autor desconhecido, no entanto, tudo ganha outra dimensão. Assim que o diretor adverte seus subordinados de que eles são peças passíveis de serem trocadas, deixando-os cabisbaixos e silenciosos, eis que surge um inconformado (e provavelmente um insubstituível!). A partir daí é travado o seguinte diálogo:
“De repenteumbraço se levanta e o diretor se preparaparatriturar o atrevido:
– Alguma pergunta?
– Tenho sim. E Beethoven?
– Como? – encara-o o gestor confuso.
– O senhor disse queninguém é insubstituível. E quem substituiu Beethoven? E Jorge Amado, Graham Bell, Pablo Picasso, Karl Marx, Isaac Newton, Beatles, Tom Jobim, Ayrton Senna, Ghandi, Monteiro Lobato, Frank Sinatra, Dorival Caymmi, Mané Garrincha, Santos Dumont?”
A lista acima é interminável, contando apenas aqueles que se tornaram famosos por ter se destacado em suas respectivas áreas de atuação profissional. Eu poderia, sem muito esforço, lembrar-me de, pelo menos, uma centena de nomes – desconhecidos para a história e para aqueles que estejam lendo este texto – que foram ou são peças fundamentais em minha trajetória.
Todos diferentes no jeito de pensar e sentir, mas insubstituíveis em seus próprios papéis quanto a mim e quanto aos tantos outros que fizeram ou fazem parte de suas vidas. Famosos ou anônimos, fortes ou fracos, bonito sou feios, todos têm a sua própria luz, capaz de fazer a diferença nos infindáveis tipos de escuridão.
No mesmo e-mail que recebi há um trecho em que é citada a seguinte fala do “trapalhão” Dedé Santana no primeiro programa após a morte do inesquecível Zacarias: “estamos todos muito tristes com a partida de nosso irmão Zacarias… E hoje, para substituí-lo, chamamos… Ninguém, pois nosso Zaca é insubstituível”.
É possível encontrar novos funcionários para as vagas dos que sairam, novos amigos para amenizar a falta dos que estão distantes, novos amores para os corações partidos… Eles, entretanto, nunca terão a mesma essência dos que ficaram para trás.
Fonte: Roberto Darte (www.recantodasletras.com.br)
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