Quando todos vencem

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Unir o esporte ao trabalho é triunfo garantido. Campeonatos e grupos de corridaentre os colegas são cada vez mais frequentes, mas valem até os triviais bate-papos sobre a rodada de futebol

Esporte e trabalho costumam estar em esferas opostas da vida. À profissão, cabem exigências de rendimento e superação de metas. Aos exercícios físicos, relacionam-se o lazer e o alívio das obrigações. Porém, quando associados, os efeitos de um podem ser benéficos ao outro. Comentar os resultados dos jogos de futebol do fim de semana com os subordinados, por exemplo, é uma forma de melhorar a

comunicação entre a equipe. Além disso, o esporte é uma ferramenta poderosa para treinamento de pessoal. Por meio dele, os profissionais podem ser orientados para o desempenho de tarefas. Outro ponto positivo é a prática em conjunto de alguma modalidade, experiência já adotada por algumas empresas.

Os esportes têm grande apelo entre as pessoas por utilizarem uma linguagem clara e definida. Qualquer jogo, por mais simples que seja, tem regras que facilitam o entendimento entre os participantes e de quem assiste à partida. Conhecê-las não exige domínio técnico específico, o que torna o assunto acessível a todos. De acordo com o professor pós-doutor em gestão do esporte da Universidade de Brasília (UnB), Aldo Antônio Azevedo, ao falar sobre uma partida em ambiente corporativo cria-se um ponto de convergência entre trabalhadores de níveis hierárquicos diversos. Esse elemento em comum gera maior comunicação entre os colaboradores e facilita a execução das atribuições do dia a dia. “O esporte promove um processo de socialização dos indivíduos. Passa-se a ter interação de pessoas que, em ambiente estritamente formal, não conversariam”, diz.

 
Mônica (de azul), Leonice e Regina trabalham em um supermercado e correm uma vez por semana

Foi o que percebeu a secretária da diretoria de uma rede supermercados no DistritoFederal, Regina Sasakai, 29 anos. Desde 2010, ela participa de umgrupo de corrida organizado pelaempresa. O esporte é praticado uma vezporsemana, nas imediações da loja. Regina contaque o fato de se exercitar ao lado de seussuperiores faz comque se sinta mais à vontadepara abordá-los sobreassuntosprofissionais. “A corrida é algoque temos em comum. Agente acaba conversando mais e eu sinto que tenho maisliberdadeparafalarcomeles.” A experiência serviu de estímulopara Regina adotar de vez o esporte. Doisdiasporsemana, a secretária corre durante 20 minutospelamanhã e costuma frequentar uma academia no horário de almoço.

Jápara a atendente de perecíveis Mônica Pereira de Lima, 33 anos, o incentivo da empresaparaqueseus colaboradores não sejam sedentários resultou emvontade de progredir na carreira. Mônica foi uma das sorteadas pelarede de supermercadosparaparticipar da 36ª Maratona de Paris, realizada em 15 de abril. Ela treina há cincoanospelomenos duas vezesporsemana. Para se prepararpara a prova de 42 quilômetros pelas ruas da capital francesa, Mônica fazia o percurso do trabalhoatésuacasa, em Ceilândia, a pé. Durante a viagem, ela teve problemascom o idiomaestranho e voltou ao Brasil determinada a aprenderoutralíngua. “Comoeu corria, fui sorteada pararepresentar a empresafora do país. Lá, vi queeutinhaqueaproveitar a chance de estudarfrancêsouinglêsparapoderatender aos clientesquando a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 acontecerem”, explica.

Treinamento
A capacitaçãopormeio de exercíciosfísicos é utilizada como ferramenta de treinamento de profissionais. De acordo com o diretor de recursos humanos do Grupo Holomática Daniel Castelo, uma partida de vôlei entre colaboradores, por exemplo, permite que se ensine os valores da empresa aos profissionais sem que pareça doutrinação. Segundo ele, “na prática esportiva são apresentadas as questões como o respeito ao próximo sem parecer moralista, principalmente em níveis hierárquicos mais baixos”, diz.

Como não poderia deixar de ser, os efeitos benéficos do esporte no trabalho são também de ordem física. Realizar exercícios melhora o condicionamento e fortalece a imunidade. O professor de educação física e treinador do grupo de corrida composto por Regina e seus colegas, explica que a política de estímulo à prática esportiva reduz a emissão de atestados médicos. Segundo ele, os praticantes ficam mais dispostos. O único problema é convencê-los a sair do sedentarismo: “O mais difícil é que alguns funcionários trabalham antes de praticar esporte. Assim, quando vão correr, por exemplo, já estão cansados. A gente precisa ficar na cola para estimulá-los a participar do treino”.

Iniciativa dos funcionários
O incentivo à prática de esportes pode partir tanto da organização quanto dos funcionários. Entre a equipe de um shopping center da cidade, formou-se um grupo de futebol feminino organizado pelas próprias colaboradoras. Fabiane Carvalho de Oliveira, 28 anos, trabalha no departamento administrativo do empreendimento e se uniu a Sandra Delmondes, 28, e mais 13 funcionárias para organizar o torneio. A ideia surgiu despretensiosa, quase como brincadeira. “Um dia, durante uma conversa, alguém sugeriu que nos juntássemos para jogar futebol. Em três semanas, estávamos com tudo pronto”, conta Fabiane.

Para Sandra, foi o momento de conhecer melhor os colegas. “A gente vê como é a pessoa, descobre interesses comuns”, diz. Participaram pessoas de todas as áreas: administrativo, segurança e estacionamento. A competição deu tãocertoque a direção do estabelecimentojá está organizando umeventomaior, comtimesmasculino e feminino, aindaparaestesemestre. A gerente de marketing do shopping, Iara Rocha, conta que o esporte serviu para reforçar o espírito de equipe. “O efeito imediato foi a aproximação”, conta.

Além de estreitar os contatos, o esporte pode ser usado como forma de celebrar conquistas da empresa, de acordo com o consultor Daniel Castelo. Para ele, o fato de todos estarem em igualdade de condições no momento de uma partida faz com que se sintam mais integrados à organização na qual trabalham. O especialista em RH diz ainda que o esporte é uma ótima ferramenta de comemorar o alcance de metas.

Já em uma empresa de engenharia de Brasília, a decisão de investir em práticas esportivas partiu de cima. O diretor de empreendimentos da organização, Marco Túlio Batista, conta que teve a ideia de montar uma equipe de corrida com outra diretora da instituição. “Escolhemos a corrida pelo fato de ser um esporte que não demanda muito investimento em equipamentos nem tanta habilidade”. Batista diz também que, para dar alternativa àqueles que preferem outras modalidades esportivas, foi montado um convênio com uma academia vizinha ao prédio da corporação.

O grupo foi formado em 2010 e os integrantes treinam por conta própria, mas se unem para competir nas provas de rua em Brasília. O técnico em edificações Marcos Lázaro, 33 anos, entrou há um ano para o time e já participou de quatro corridas. Desde que abandonou o sedentarismo, sentiu melhorias diretas em seu rendimento. “Estou mais rápido para desempenhar minhas tarefas”, conta.

Mais de um século
A prova acontece desde 19 de julho de 1896. São 42 quilômetros de corrida pelas ruas da Cidade-Luz e a distância é uma referência ao percurso entre Marathon e Atenas, palco das primeiras competições, na Grécia Antiga. Este ano, participaram 40 mil corredores de diversos países.

Palavra de especialista
Um estilo para cada necessidade
“Cadatipo de esporte estimula certascompetências. Aquelesfeitosemgrupo encorajam o espírito de equipe, a buscapormetas coletivas. É uma ótimamaneira de o profissional se integrar às pessoascomquemtrabalha e se sentirmaisparte da empresa. Isso se reflete em melhorias de rendimento, comcerteza. Os individuais, porsuavez, colaboram no aprimoramento do preparofísico e, consequentemente, no alívio do estresse. Assim, o ganhopessoal incide no desempenhoprofissional. Quanto aos esportes de aventura, eunão considero que sejam tãoeficazesquanto os outrosporque dependem de preparaçãoprévia. É precisoavaliar o condicionamento da equipeantes de levá-la para a atividade. Além disso, esportesaltamente competitivos contêm algunserros de metáfora, como a falsasensação de controle do ambiente.”
Daniel Castelo, consultor de recursoshumanos

Fonte: CorreioWeb