Como a figura masculina pode contribuir na promoção da igualdade de gênero

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No Brasil, desde 1992, o Dia do Homem é destacado em 15 de julho. Dentre seus objetivos, há o de ressaltar as contribuições masculinas positivas para a sociedade, a família, o casamento e o cuidado com os filhos. Diante desse aspecto, a Comissão de Mulheres do Tribunal Regional Eleitoral da 7ª Região (TRT7) elegeu a data para homenagear a figura de homens que contribuem positivamente na promoção da igualdade de gênero.

O servidor Fernando Freitas, secretário-geral da Presidência do TRT7, foi convidado para dar seu depoimento e mostrar que, mesmo com altas responsabilidades profissionais, é possível – e bastante benéfico – a todo homem que trabalha nos espaços públicos ou no mercado de trabalho em geral, também participar ativamente das atribuições do cuidado privado, fazendo-se presente na construção de uma relação conjugal não-hierarquizada, na efetiva participação da educação dos filhos e na divisão não-sexista das tarefas do lar, compreendendo-se, portanto, não como mero expectador das relações familiares, mas como ator proativo nessa importante área de sua vida humana.

“Neste dia tão relevante, queremos falar para a sociedade que a solução para a desigualdade de gênero passa, necessariamente, pela compreensão de que o modelo patriarcal, que em pleno século XXI ainda subjuga tantas mulheres, na verdade é apenas uma invenção histórica e cultural que pode ser reinventada para melhor”, explica Daiana Gomes Almeida, juíza do trabalho coordenadora da Comissão.

Para a magistrada, abrir espaço para o autoconhecimento e expansão da consciência dos homens, frisando a importância da participação masculina na construção de uma sociedade livre, justa e solidária, é um caminho indispensável para se alcançar a igualdade de gênero, o que trará benefícios não só às mulheres, mas a todos os homens e a futuras gerações.

“Não se pode pensar uma sociedade melhor para nossa atual geração e para as de nossos filhos, netos, bisnetos, se partirmos da premissa equivocada de que homens e mulheres estão em uma guerra de sexos, posicionando-se de forma antagônica. Não é isso que queremos. Queremos que os homens compreendam a importância de seu papel na divisão igualitária de tarefas e na desconstrução do estereótipo de gênero do patriarcado, que só os afastam das mulheres e do seio familiar”, afirma.

Economia

Segundo matéria da revista Exame publicada em junho de 2020, “o modo cultural como o trabalho doméstico é dividido entre homens e mulheres parece impactar apenas o microuniverso familiar, mas o Fundo Monetário Internacional estima que o produto interno bruto global cresceria pelo menos 4% se o trabalho não remunerado fosse mais bem distribuído”.

Isso ocorreria porque as mulheres teriam maior participação no mercado de trabalho e, consequentemente, maior movimentação econômica, gerando ganhos para todos. Assim como na divisão de tarefas domésticas, o que acontece dentro de casa passa a impactar toda a sociedade. “Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará, em parceria com o Instituto Maria da Penha, estimou que o Brasil perde R$ 1 bilhão ao ano com a violência doméstica por causa de absentismo das funcionárias e impactos na saúde. No país, essa violência cresceu 40% em abril em comparação ao registrado no mesmo mês de 2019”, aponta a matéria.

O psicólogo e escritor Fred Mattos ressalta que “o machismo é uma ideia do que é ser homem que, na verdade, sacrifica um monte de características humanas e que acaba fazendo com que ele perca o interesse genuíno pelo que ele está vivendo. Em última instância, o machismo é uma grande cegueira”.

De acordo com pesquisas apontadas no Documentário da ONU “Precisamos Falar com os Homens? Uma Jornada pela Igualdade de Gênero”, estima-se que o machismo leve a convicções equivocadas, segundo 62% dos próprios homens e 51% das mulheres, de que “é dever do homem sustentar a família”. Também acaba corroborando para que os homens estejam mais expostos à violência criminal, a mortes no trânsito e ao abuso de drogas, além do triste dado que revela que homens se suicidam quase 4 vezes mais do que mulheres no Brasil.

Participação institucional

O incentivo à participação institucional feminina é o principal objetivo da Comissão de Mulheres do TRT7, que foi reconstituída no dia 17 de junho, após um período de inatividade. A promoção do vídeo para o Dia do Homem foi uma oportunidade enxergada pelos membros do grupo para conscientizar o público masculino sobre como uma sociedade em que homens e mulheres se respeitem e se valorizem mutuamente e evoluam, juntos, de forma participativa e colaborativa, permitindo que mulheres se desenvolvam profissionalmente e passem a ocupar os espaços públicos e institucionais, de forma mais equitativa.

“Se a desigualdade de gênero tolhe a participação institucional feminina e tem como uma de suas causas absenteístas o machismo estrutural e a violência do homem contra a mulher, então isso não é um problema só das mulheres, mas um problema dos homens também. E se essencialmente os homens são parte do problema, é porque eles também são parte essencial da solução”, avalia Daiana Almeida.

Trazer à discussão o papel masculino saudável dentro do ambiente familiar mostra-se bastante oportuno especialmente nesta semana, quando um dos principais assuntos em destaque na mídia nacional foi o vídeo do flagra da agressão de um DJ à sua esposa. “Penso que a violência contra a mulher deve ser combatida por, pelo menos, duas frentes concomitantes: pela via punitiva e pela via educativa, seja com a punição adequada aos agressores e a capacitação de todos os operadores do Direito, para o julgamento de processos cíveis e criminais, com perspectiva de gênero; seja com a promoção de amplas e permanentes campanhas educativas de desconstrução do machismo estrutural, ainda tão arraigado em nossa sociedade”, finaliza a juíza.

Fonte: TRT7