Mediação reduz casos de violência em escolas de Vila Velha (ES)

Compartilhe

“Reconstruir o Viver” é um projeto desenvolvido pela 1ª Vara da Infância e da Juventude de Vila Velha que vem multiplicando técnicas de justiça restaurativa e métodos pacíficos de solução de conflitos no município. Entre eles, a mediação e a construção de círculos de paz, que estão provocando mudanças de comportamento da comunidade.

De acordo com a juíza Patrícia Neves, titular da Vara, idealizadora e coordenadora do projeto, esse trabalho começou em fevereiro de 2016, em razão da sensação diária de impotência do Juizado, da Defensoria Pública, do Ministério Público e da Rede de Atendimento aos adolescentes perante a onda de criminalidade que atinge as famílias e as escolas. “Antes, a gente lidava apenas com as consequências, agora estamos lidando com as causas desses problemas”.

O projeto tem dois focos específicos. O primeiro é voltado para a solução dos processos já existentes no Juizado da Infância e da Juventude do município. Para isso, a Vara conta com servidores habilitados em práticas de justiça restaurativa e mediação judicial. Esses profissionais facilitam o diálogo entre as partes envolvidas, para que elas mesmas encontrem um fim para o conflito.

“No curto tempo em que aplicamos os métodos restaurativos, já percebemos resultados positivos e muito mais duradouros do que os de uma sentença judicial. Havia um processo, por exemplo, que tramitava há muitos anos aqui na Vara. E foi através da mediação que conseguimos encerrá-lo. E o melhor, fazer com que a família voltasse a conversar”. Relatou a servidora e mediadora judicial, Virgínia Hemely.

O segundo foco, é voltado para a prevenção de conflitos e para a mudança da cultura de violência. Para isso foi preciso trabalhar com a comunidade. Representantes das Forças de Segurança, do Legislativo, do Executivo, Líderes de Bairros, Professores e Alunos participaram de cursos de formação em mediação comunitária, escolar, criação de círculos de paz e comunicação pacífica.

Nas três escolas-piloto de Vila Velha, em que o projeto foi implantado, existem 180 alunos mediadores. Uma delas é a escola municipal Mikeil Chequer, em Boa Vista, onde adolescentes do 5º ao 9º ano já realizam a mediação de conflitos dos próprios colegas. Eles aprenderam sobre racismo, preconceito, ditadura da beleza e outros fatores que podem gerar desavenças na escola.

Para a aluna Isabela Rodrigues, do 7° ano, a mediação gera um sentimento libertador: “Não só para nós, que somos mediadores, mas também para os conflitantes. A gente fica feliz em poder ajudar as pessoas que estão angustiadas. E fica feliz vendo que eles saem daqui querendo mudar. Muitos saem pedindo desculpas e se emocionam”.

A professora de História, Cleidmar Junca, ressalta que a mediação tem surtido muito efeito. “Estamos chamando o aluno pra vir aos sábados, pra acordar cedo e vir pra escola. Eles não indo dançar nem jogar. É um esforço maior. Requer estudo e dedicação. E mesmo assim, eles se interessam muito. Hoje, a demanda é grande de alunos que querem ser mediadores”.

Como resultado prático do projeto, em um ano e meio, não há mais casos de violência nos turnos das escolas em que a mediação foi implantada. E a demanda de processos na Vara da Infância e da Juventude de Vila Velha, relacionados a conflitos escolares, já reduziu sensivelmente.

“É um trabalho cansativo, de formiguinha. Temos que estar em todas as escolas e comunidades, mas isso vem trazendo muitas mudanças de comportamento. Sabemos que não vamos criar pessoas perfeitas, não vamos solucionar todas as questões da humanidade. Mas só o fato da sociedade ter começado a raciocinar sobre a possibilidade de uma vida mais pacífica, já significa um grande passo. E vamos continuar desenvolvendo até onde for necessário”, concluiu a juíza Patrícia Neves.

Fonte: TJES