A regulamentação do uso das redes sociais pelos magistrados e o combate às fake news foram os temas do final da tarde do I Evento Nacional “Os Juízes e as Mídias Sociais”, organizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e realizado na sede do Tribunal Superior do Trabalho (TST). “O que nos interessa é fortalecer o Poder Judiciário e, com esse debate, garantir a nossa independência e imparcialidade. E isso não pode ser exercido hoje sem que haja uma regulamentação aos magistrados sobre as formas de exposição nas redes sociais”, afirmou o conselheiro Márcio Schiefler, um dos mediadores do encontro.
De acordo com o presidente da Comissão de Planejamento Estratégico do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Sebastião Caixeta, “vivemos uma parte da história na qual estamos voluntariamente abrindo mão da nossa privacidade”. Durante palestra no evento, o procurador lembrou que o Brasil é o terceiro País do mundo em número de crimes cibernéticos e elencou normativos já existentes que regulam o uso das redes pelos membros do Poder Judiciário, como o Provimento 71, da Corregedoria Nacional de Justiça.
Publicado em junho de 2018, o Provimento 71 da Corregedoria Nacional de Justiça dispõe, entre outros pontos, que o magistrado deve agir com reserva, cautela e discrição ao publicar seus pontos de vista nas redes sociais. Também orienta que é vedado aos membros da magistratura a participação em situações que evidenciem apoio público a candidato ou a partido político. “A responsabilidade do magistrado é muito maior do que a de qualquer cidadão quando ele faz uma manifestação de opinião nas redes sociais. Por isso ele deve impreterivelmente checar qualquer informação para assegurar a sua veracidade”, afirmou Caixeta.
Pesquisa internacional
A representante das Nações Unidas, Cristina San Juan Serrano, apresentou um trabalho que está sendo elaborado pela entidade unindo toda a legislação internacional sobre o posicionamento dos magistrados nas redes sociais e quais as penalidades para os atos infracionais. “É importante que as pessoas tenham consciência de que tudo que elas fazem nas redes sociais tem um risco”, alertou.
Levantamento apresentado pela especialista mostrou que 85,7% dos juízes em todo mundo usam as redes sociais. Um total de 96,43% não acha que deve haver proibição ao uso das redes pelos magistrados, enquanto 56,25% são a favor da regulamentação do uso.
Mais de 73% dos juízes em todo mundo alertaram que nunca receberam nenhuma orientação sobre como deveriam se portar nas redes sociais; 81% têm interesse em ter algum tipo de formação na área. “Estamos criando uma plataforma especial para magistrados de todo mundo para colhermos sugestões de regras e cursos, e para trocarmos experiências entre os Países”, afirmou Serrano.
Fake news
As fakes news também estiveram presente no evento, com palestra de Flávio Pansieri, diretor da Escola Judiciária Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “As fake news sempre existiram. O que mudou agora com as redes sociais é a sua capilaridade e rapidez de disseminação”, explicou o especialista. Ele ressaltou que, para os magistrados é muito importante chegar a informação antes de fazer qualquer ação. “A informação não pode pautar a magistratura brasileira”, enfatizou.
O CNJ lançou nesta segunda-feira (1º/4) a campanha digital “#FakeNewsPerigoReal” e “#FakeNewsNão” para alertar a população sobre os perigos de propagar informação falsa pelas redes sociais. A intenção, porém, é ir além da campanha nas redes sociais. A parceria da Presidência do CNJ, do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior Eleitoral, do Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior do Trabalho, da Justiça Federal, da Justiça Estadual, da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e da Associação dos Juízes Federais do Brasil, busca estabelecer ações junto às agências de checagem de fatos para disseminar, com rapidez e credibilidade, as versões enganosas que circulam na web.
Apenas no primeiro dia de campanha nas redes sociais, foram registradas 2.111.832 impressões (quantas vezes a hashtag foi vista pelos usuários do Twitter) com a hashtag #FakeNewsNão. Além as entidades que integram a ação, também houve participação dos perfis oficiais do BNDES, Conselho Federal da OAB, Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF), Colégio de Presidentes e Corregedores da Justiça do Trabalho do Brasil (Coleprecor), CJF, MPF/AM e AGU. Outros destaques foram os Retweets da jornalista Maju Coutinho e da cantora Daniela Mercury.
Paula Andrade
Agência CNJ de Notícias