Viver a infância e a adolescência em um abrigo é um desafio enfrentado por mais de 45 mil crianças no Brasil. Se não conseguem ser inseridos em uma nova família por meio da adoção, os jovens têm de deixar as instituições de acolhimento quando completam 18 anos de idade. Pensando em oferecer condições para dar autonomia a esses adolescentes, o juiz Iberê Dias criou o projeto Trampo Justo. A iniciativa foi vencedora da 16ª edição do Prêmio Innovare na categoria “Tribunal”.
Magistrado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Iberê desenvolveu a ação com o objetivo de garantir a inserção no mercado de trabalho de jovens prestes a atingir a maioridade. Com essa idade, por lei, eles são considerados independentes e são obrigados a sair dos abrigos. “A grande palavra do projeto é autonomia. A gente viu a necessidade de chamar a atenção dos empregadores e da imprensa para a questão e sensibilizá-los dessa necessidade, pois é uma forma de aprimorar o tecido social”, explica o juiz. O projeto é desenvolvido em parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Lançada em fevereiro deste ano, a proposta visa sensibilizar possíveis empregadores e divulgar a prática a fim de incentivar a concessão de vagas de emprego para os jovens. Até o fim de 2019, cerca de 60 adolescentes já estavam empregados por meio do projeto, que busca ainda obter bolsas de estudo universitárias para promover capacitação profissional.
Atualmente, em São Paulo existem 665 casas de acolhimento que abrigam 8 mil jovens. Segundo Iberê Dias, quase 2 mil já tem mais de 14 anos, e podem ser aprendizes, e cerca de 50 alcançam a maioridade todos os meses. Além de dialogar com o empresariado, Trampo Justo busca conscientizar os adolescentes promovendo palestras ministradas por personalidades que tenham as mesmas vivências que eles, como o rapper Dexter, um dos principais parceiros do projeto.
“Queremos conscientizar a molecada da importância de conseguir trabalho. Eles precisam entender que têm direitos e podem sonhar. Por isso, convidamos o Dexter para dialogar com esses adolescentes” conta Iberê Dias.
Conscientização
O rapper é ex- presidiário e iniciou sua carreira enquanto ainda estava preso no Carandiru em 2000. Deixou a prisão em 2013 e hoje é engajado em conscientizar os jovens da periferia sobre a realidade do mundo do crime, por meio das suas músicas, além de participar de diversos projetos sociais voltados para essa questão.
Sobre os resultados e desafios do projeto, o juiz ressalta a visão empresarial voltada exclusivamente para a maximização do lucro e o preconceito contra os adolescentes, além disso, o momento de crise que o país enfrenta torna o desafio ainda maior. “É bem animador, mas ainda temos alguns adolescentes que precisam de emprego” afirma.
Sobre o Prêmio Innovare
O Prêmio Innovare é uma iniciativa do Instituto Innovare, com a parceria institucional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep), Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Conselho Federal da OAB, Associação Nacional dos Procuradores de República (ANPR), Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional de Justiça, com o apoio do Grupo Globo.
Desde sua criação, em 2004, o Prêmio Innovare já recebeu mais de 6.900 trabalhos e premiou, homenageou e destacou 213 iniciativas que têm como objetivo principal aprimorar o trabalho da Justiça em todo o país, tornando-a mais rápida, eficiente e acessível a toda a população. No site do Innovare, é possível conhecer todas gratuitamente, utilizando a ferramenta de busca. A consulta pode ser feita por palavra-chave, edição, categoria, estado de origem e a situação da prática.
Hallana Moreira, com supervisão de Thaís Cieglinski
Agência CNJ de Notícias