Ex-detenta chefia trabalho de internas em MG

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Uma semana após deixar o Presídio Feminino José Abranches, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), Ana Carolina Moreira, de 31 anos, teve de retornar ao local onde ficou dois anos presa. Longe de protagonizar mais um caso de reincidência criminal, ela voltou como contratada de uma empresa que fabrica, dentro do presídio, sacolas retornáveis. Chefe de uma equipe de 20 detentas, Ana comemora a nova fase de sua vida. “Hoje estou realizada. Agora, quero comprar uma casa e tirar minha família do aluguel”, pensa grande a mulher, que mora com a mãe e três filhos.

Ana deixou o presídio no dia 4 de abril, ao receber alvará judicial de prisão domiciliar. Imediatamente, foi contratada pela empresa LT Confecção Ltda, que apóia a Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais (SEDS) em ações de reinserção social de detentos e egressos do sistema carcerário. A SEDS é uma das parceiras do Programa Começar de Novo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que utiliza a inclusão produtiva como estratégia de prevenção da reincidência criminal.

“Quando voltei para trabalhar no presídio, no começo fiquei constrangida. Senti que as internas me olhavam de forma diferente, com desconfiança. Depois elas entenderam por que eu estava ali, e hoje me tratam com educação e respeito”, conta Ana, feliz também por contribuir para a reinserção social das ex-companheiras de cárcere.

Nos dois anos em que cumpriu pena no presídio, Ana adquiriu a formação profissional que hoje a capacita para coordenar a equipe de produção. Fez cursos de corte e costura, produção industrial e de recursos humanos. Essa capacitação foi oferecida por meio de parceria entre a SEDS, Secretaria de Administração Prisional (SUAPI) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (EMATER/MG). Antes de ser presa, ela já havia concluído o ensino médio.

Thaís Rosa de Oliveira Lara, a empresária que contratou Ana, conta ter criado a LT Confecção Ltda, em 2010, com o objetivo de contribuir para a reinserção social das internas do Presídio Feminino José Abranches. “Deus falou comigo. Vá, crie a empresa porque tem gente precisando. Não foi nada ligado a empreendedorismo. Criei a empresa com o objetivo de ressocializar o ser humano. Os que estão presos precisam de uma segunda chance. Eles precisam recuperar a dignidade que perderam com a prisão. E essa dignidade vem com o trabalho”, conta a empresária, acrescentando que a produção das internas já forneceu bolsas para a Vale, o SEBRAE, diversos supermercados da região metropolitana de Belo Horizonte e empresas de outros estados, como São Paulo.

A diretora-geral do Presídio Feminino José Abranches, Raquel Alves de Paula, comentou a repercussão do retorno de Ana ao convívio com as internas. “Elas estão se sentindo valorizadas. Estão vendo que o nosso trabalho de reintegração social é verdadeiro, não é da boca pra fora”, afirma. O presídio abriga 126 internas, cuja maioria cumpre pena por tráfico de drogas. Segundo a diretora, 80% estudam e trabalham dentro da unidade. “A pessoa, se não tiver alguém para lhe dar uma chance, dificilmente se tornará um ser humano melhor”.

Jorge Vasconcellos
Agência CNJ de Notícias