A Ouvidoria do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) realizou, na sexta-feira (16), o webinário “Aspectos do enfrentamento à desinformação”, com o objetivo de estimular o pensamento crítico e o entendimento sobre o fenômeno da desinformação, fomentando a conscientização da sociedade sobre seu necessário enfrentamento e contribuindo para o fortalecimento da democracia.
O evento faz parte do projeto de gestão do presidente do TRE-GO, desembargador Leandro Crispim, que tem como uma de suas metas aproximar a população da Justiça Eleitoral. O juiz ouvidor do TRE-GO, Átila Naves Amaral, foi representado na ocasião pelo Juiz Membro da Corte, Vicente Lopes da Rocha Júnior.
A abertura do evento foi feita pelo diretor-geral do Tribunal, Wilson Gamboge, que expôs os inúmeros desafios enfrentados pela Justiça Eleitoral nas últimas eleições em razão da desinformação e de notícias que desestabilizaram a sociedade como um todo. “Empreendemos uma cruzada contra a desinformação e a imprensa foi pródiga em nos ajudar, a partir das agências de checagem que verificavam a veracidade das notícias. O aprendizado é a resposta para essas situações e a Justiça Eleitoral acredita que aprendeu com tudo isso.”
O webinário foi divido em dois painéis, sendo o primeiro, no período matutino, intitulado “Democracia e desinformação”, contando com a exposição do psicanalista e colunista da Folha de São Paulo, Contardo Calligaris, e do professor associado da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pós-doutor em Epistemologia da Comunicação, Luiz Signates. A moderação foi realizada por Fabiana Pulcineli, repórter de Política do jornal O Popular e colunista da rádio CBN Goiânia no programa Papo Político.
O psicanalista Contando Calligaris iniciou explicando que embora o mundo digital torne cada um de nós autor e difusor em potencial de falsas informações, a disseminação é prática antiga. Analisou as características humanas e alguns vieses, registrados pela psicologia, que nos predispõem a crenças, entre eles o da confirmação. “O viés de confirmação é simplesmente o fato de que se verifica que nós preferimos sempre tudo o que nos confirma o que já acreditamos. Isso é uma catástrofe, porque esse viés nos impede de pensar além do que já pensávamos, nos impede em grande parte de conseguir fazer nosso próprio contraditório.”
Luiz Signates baseou sua exposição na defesa da democracia. “Uma sociedade é mais ou menos democrática conforme o modo como lida com as comunicações dentro de sua própria organicidade”, disse o professor, considerando que a internet, ao mesmo tempo em que promove a liberdade da fala e da comunicação, também significa um risco, já que o excesso de informação acaba por gerar desinformação. Declarou que não se deve tutelar a cidadania na tentativa de contenção das inverdades. “Uma democracia depende de regimes comunicacionais que sejam abertos, que sejam livres e que sejam responsáveis”, afiançou, acrescentando que é possível aprimorar os processos de responsabilização das fontes de desinformação.
O segundo painel, denominado “Livre manifestação do pensamento e desinformação” foi realizado no período vespertino e contou com exposição de Alana Rizzo, jornalista, consultora especializada em comunicação e política e Samuel Balduíno, advogado eleitoralista, presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-GO, tendo como moderador o vice-presidente e corregedor do TRE-GO, desembargador Luiz Eduardo de Sousa.
Alana Rizzo falou sobre o “Redes Cordiais”, projeto do qual é cofundadora e que visa engajar influenciadores digitais no combate à desinformação e ao discurso de ódio nas redes sociais. Disse que temas políticos se espalham mais rápido e profundamente que qualquer outro tema e comentou a dificuldade em corrigi-los, uma vez disseminados. Apresentou dados estatísticos, mencionou os desafios do jornalismo e lamentou os ataques nas redes, que geram polarização e intolerância. Abordou ainda questões de gênero, afirmando que as mulheres que se candidatam a cargos políticos são mais atacadas. “É responsabilidade nossa, como sociedade, proteger essas mulheres e criar redes de apoio, inclusive legais, para protegê-las.”
O advogado Samuel Balduíno fez uma abordagem específica a respeito do que tem sido feito e que deve ser analisado sob o viés jurídico da desinformação. “Não podemos cair na tentação da censura prévia, preservando a liberdade de pensamento e a livre manifestação, mas estabelecendo no nosso ordenamento jurídico antídotos para que aqueles que desinformarem, difamarem, caluniarem, possam ser contundentemente punidos”, afirmando ainda que a maior fake news é aquela que atinge a imagem das urnas eletrônicas, porque ela não afeta apenas os candidatos, mas a Justiça Eleitoral e a democracia.
Fonte: TRE-GO
Assista ao painel Democracia e Desinformação no canal do TRE-GO no YouTube
Assista ao painel Livre Manifestação do Pensamento e Desinformação no canal do TRE-GO no YouTube