A pesquisa da historiadora Ana Carolina Monteiro Paiva sobre o trabalho e cotidiano na estrada de ferro Madeira-Mamoré foi premiada na categoria trabalho acadêmico no Prêmio CNJ de Memória do Poder Judiciário. O estudo foi realizado no Centro Cultural e de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO). “Vejo o prêmio como um incentivo, para que mais pesquisadores visitem e explorem instituições como o Centro de Documentação do TJ, pois há um potencial de histórias a serem escritas, que contribuirão para a história de Rondônia e para a história do Brasil.”
Nascida em Porto Velho, Ana Carolina foi morar na Paraíba aos 14 anos. Filha de professora de português, concluiu mestrado em História pela Universidade Federal da Paraíba. Segundo ela, a ideia surgiu quando ainda escrevia o trabalho de conclusão de curso chamado “Os imersos na penumbra da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré”.
A pesquisadora estudou alguns aspectos do cotidiano dos trabalhadores da companhia da Madeira-Mamoré, a partir da estruturação de um sistema de controle e manutenção da força de trabalho, durante o período de construção e primeiros anos de funcionamento da ferrovia, de 1907 até 1919. Ela investigou os espaços de trabalho e moradia; atividades sociais como festas, desfiles e datas comemorativas; as mobilizações como a primeira greve de Porto Velho; conflitos; resistências à norma de comportamentos sociais; condutas desviantes; condições sanitárias e doenças, além da saúde física e mental dos trabalhadores.
Foram utilizadas diversas fontes históricas, como literaturas de viagens, poemas escritos pelos trabalhadores, documentos oficiais da empresa rodoviária, produções acadêmicas, relatos memorialísticos, jornais, relatórios médicos, mapas, telegramas e documentos judiciais como processos cíveis e criminais. “Voltei a Porto Velho duas vezes para fazer uma pesquisa presencial com essas fontes, visitei o Museu da Memória rondoniense e o Centro Cultural de Documentação Histórica, mas grande parte da pesquisa foi feita digitalmente, à distância”, conta Ana Carolina.
Ela afirma que o trabalho teve apoio da então coordenadora do Centro do TJRO, Nilza Menezes, e da estagiária Pricila de Melo Almeida, tanto na pesquisa presencial quanto na pesquisa à distância. “Essas ações conferem visibilidade e incentivam para que o pesquisador possa retornar e recomendar o espaço.”
A historiadora se inscreveu no prêmio graças à indicação de Nilza Menezes, que viu o potencial da pesquisa como contribuição à memória do Judiciário. “Ela realmente acreditou e confiou em mim. Toda a equipe do Centro faz parte desse projeto. O acervo que consultei em Porto Velho é uma das principais fontes da história do estado de Rondônia. Por isso, deveria existir um diálogo maior com as universidades.”
Para Nilza Menezes, o prêmio demonstra a qualidade da documentação que pertence ao Judiciário, o que proporciona diversas leituras em diferentes focos. “Ela [Ana Carolina] fez uma pesquisa muito linda, apesar da pandemia e de todas as dificuldades. Fiquei muito impressionada com a qualidade do trabalho acadêmico dela, e quando surgiu o concurso eu recomendei para que participasse, pois era um trabalho muito bom e demonstra a riqueza dos documentos do Centro de Cultura e de Documentação Histórica do Judiciário.”
Fonte: TJRO