O I Seminário Mato-grossense Violência Contra a Mulher – Reflexões em Busca de Soluções gerou um documento com reivindicações que será entregue aos poderes executivos estadual e municipal. O documento fundamenta a necessidade da criação e construção de uma Casa de Desintoxicação de Dependentes Químicos só para mulheres e a reestruturação física das delegacias especializadas da infância e da juventude e dos conselhos tutelares. Vistorias do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) teriam constatado deficiências no prédio da delegacia em Cuiabá.
O evento também promoveu debates que chegaram a conclusões importantes para entender porque existe preconceito contra a mulher e como mudar essa realidade cultural. Na discussão que ocorreu logo após a juíza Ana Cristina Silva Mendes, titular da Primeira Vara Especializada em Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de Cuiabá, ministrar palestra sobre o Empoderamento da Mulher, chegou-se à conclusão de que existem muitas formas de abuso, que todas sofreram algum tipo no decorrer de suas vidas e que desde os mais simples devem ser combatidos.
Os jovens presentes e representantes de diversos segmentos da sociedade foram orientados a combater a violência cortando o mal pela raiz. “Temos que aprender a não mais tolerar desde a mais simples violência. Não denunciar e não buscar ajuda, aceitar aquela brincadeirinha de um colega de faculdade, isso tudo acaba incentivando os graus mais elevados de violência”, afirmou Maria Auxiliadora de Oliveira, da Casa de Amparo de Cuiabá.
Mariza Bazo, da BPW Cuiabá, pontuou que a submissão psicológica da mulher tem influência direta com a dependência econômica. Ela contou que é por isso que a instituição que representa investe na capacitação de mulheres. “Para que ela conquiste a independência econômica. Esse é o caminho! O que mais existe é história de mulheres que se submetem à agressão física e psicológica porque não consegue sair da casa por não ter condições financeiras de sobreviver sozinha e sustentar os filhos”, observou.
A juíza auxiliar de Entrância Especial Amini Haddad também criticou o preconceito no mercado de trabalho. Ela observou que a desvalorização da mulher começa nas pequenas coisas, como o difícil acesso aos espaços públicos e cargos de relevância. Segundo ela, as mulheres recebem entre 60% a 70% a menos do que os homens para desempenhar a mesma função. Apenas uma em cada 40 consegue chegar à chefia, enquanto em relação aos homens a estatística é de um em cada oito. Apenas 9% do Congresso Nacional são de mulheres, no Tribunal de Justiça do nosso estado, há apenas três desembargadoras, enquanto há 25 desembargadores. “Esse campo de desvalor acaba incentivando a violência contra a mulher”, avaliou.
A diretora da Escola Municipal Lenine de Campos Povoas, Maria do Carmo Martins, tomou a palavra e em nome da plateia parabenizou as organizadoras do evento. Ela observou que ao assistir o debate, os alunos tiveram um enriquecimento intelectual e pessoal muito grande. “Até estranhei que nossos alunos permaneceram o dia todo, até o final. Sempre eles ficam só meio período. É gratificante, muito bom, quero que sempre que houver eventos como esse que nossa escola seja convidada”, avisou.
A tenente Sheila Sebalhos Santana também aprovou o seminário e a proposta de que aconteça todos os anos. “O tema em si é uma preocupação mundial e é importante esse debate, faz a gente parar para refletir e ver o que cada um pode fazer para melhorar a sociedade”, enfatizou.
Do TJMT