Em 2020, ano em que a população precisou se isolar para evitar o aumento de mortes provocadas pela Covid-19, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) criou dois projetos que venceram a barreira da distância e do tempo, aproximando as pessoas do século XXI ao Judiciário paulista de diferentes épocas. O projeto Visita Telepresencial do Museu do TJSP e o projeto Visita Telepresencial do Palácio da Justiça possibilitam visitas monitoradas, previamente agendadas, por meio da plataforma tecnológica Teams.
O tour já levou mais de 7 mil pessoas, inclusive de fora do país, a conhecer a história do Museu do TJSP e do Palácio da Justiça. “A ideia foi criar uma visita inovadora, como se fosse presencial, acolhedora, mas que acontece pelo computador, de maneira segura em termos sanitários”, diz Bruno Bettine de Almeida, servidor do Museu do TJ e “guia” da visitação do Museu.
O Museu do TJSP fica no Palacete Conde de Sarzedas, um pitoresco prédio de cor telha, fincado em pleno centro de São Paulo. Construído em 1875, o palacete atualmente é palco de exposições de arte, shows e concursos literários. O passeio virtual leva a documentos, fotografias, sentenças históricas, objetos e decoração que ajudam a conhecer a evolução histórica dessas unidades judiciárias que nasceram entre o final do século XIX e início do século XX.
Conheça mais sobre a visita ao Museu do TJSP
É o caso dos processos digitalizados apresentados sobre o advogado, jornalista, poeta e abolicionista Luiz Gonzaga Pinto da Gama, que desvendam os costumes de um Brasil ainda agrário e escravagista. Autodidata, Luiz Gama – filho de uma mulher africana livre e de um português, que o vendou como escravo – foi o responsável pela libertação de muitas pessoas escravizadas antes mesmo de a escravidão ter sido abolida no Brasil.
Guardiões da história
“O trabalho de documentação é extremamente importante, laborioso, que começa com a atenção do juiz, que separa um processo, comunica sua importância para o departamento de pesquisa, que vai avaliar a importância histórica daquilo. É uma área que envolve muitas pessoas e de um conteúdo extremamente relevante para a memória do país. Esse arquivo de histórias está disponível para a pesquisa de toda a sociedade”, explica o desembargador Octávio Augusto Machado de Barros Filho, presidente da Comissão de Gestão da Memória do TJSP.
Segundo o magistrado, a preservação de documentos e arquivos históricos da Justiça é de interesse a toda a sociedade. Barros Filho revela que, para escrever o livro Domitila (Geração Editorial, 2017), o autor Paulo Rezzutti se valeu de pesquisas documentais nos arquivos do Judiciário paulista – entre elas, o testamento e o inventário das joias da Marquesa de Santos. “Procuramos ajudar, abrir o acervo, claro, de maneira cuidadosa, para todos, estudantes, jornalistas, historiadores que necessitam de dados mais sólidos para suas pesquisas.”
Na visita teleguiada ao Palácio da Justiça, o visitante descobre que boa parte do imponente prédio iniciado em 1911 foi construído com material importado, como o mármore amarelo português e o mármore de carrara. O granito vermelho da cidade de Itu (SP) foi um dos únicos materiais nacionais utilizados em sua construção. Tombado como patrimônio histórico de São Paulo em 1981, o Palácio da Justiça fica na Praça da Sé, onde ainda funciona a administração do Judiciário paulista e alguns setores especiais.
Conheça mais sobre a visita ao Palácio da Justiça
No passeio, é possível entrar no Salão Nobre, no Salão do Júri e no grande Salão dos Passos Perdidos, que têm esse nome por ser o local onde as pessoas aguardavam serem chamadas pelos juízes antes das sessões. “Como não sabiam o que iria acontecer, as pessoas ficavam andando, para lá e para cá”, conta o desembargador, que torce para que em breve o prédio se torne um local de promoção de cultura e arte.
Memória
Os dois projetos venceram nas categorias Patrimônio Cultural Arquitetônico e Patrimônio Museológico do Prêmio CNJ Memória do Judiciário. A premiação criada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estimula a preservação da história do país por meio das instituições do Judiciário.
Na avaliação de Barros Filho, o Prêmio incentiva ainda mais as gestões das unidades judiciárias a olharem com mais cuidado para a área de preservação da memória da Justiça e do país. “O prêmio é uma ideia sensacional. Premiando, ele incentiva e gera muitas iniciativas, que permitirão mostrar ao país que nós temos arte, temos cultura, temos história. O presente já é o passado; a memória é atemporal. No futuro, continuaremos a produzir memória.”
Texto: Regina Bandeira
Edição: Márcio Leal
Agência CNJ de Notícias
Esta matéria é parte de uma série especial que apresenta as iniciativas vencedoras do 1º Prêmio CNJ Memória do Poder Judiciário, entregue no dia 13 de maio de 2022.