Foi lançada, no dia 17 de dezembro, a Central de Vagas no Sistema Socioeducativo no Estado de Minas Gerais. A ferramenta vai permitir a gestão e coordenação das vagas destinadas a adolescentes em conflito com a lei de forma inteligente, impedindo a superlotação nas unidades socioeducativas.
A Central de Vagas é fruto de uma resolução conjunta da Secretaria estadual de Justiça e Segurança Pública, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Polícia Civil. A solução informatizada permite o direcionamento do público atendido a centros socioeducativos, levando em conta critérios objetivos. A plataforma deve entrar em operação dentro de 90 dias.
Pela Central, será possível ter um controle das vagas disponíveis em todo o estado para internação provisória e definitiva, internação sanção e semiliberdade, por meio de uma fórmula matemática que atribui uma pontuação à situação de cada adolescente, por ordem de prioridade. O escore considera a natureza do ato infracional, a distância do estabelecimento em relação à região de origem do jovem e a capacidade da unidade. Parâmetros como a gravidade do ato infracional, se ele foi consumado ou não, se houve emprego de violência e arma de fogo e aplicação pregressa de medida socioeducativa servem para a avaliação.
Disponibilidade
O desembargador Júlio Cezar Guttierrez, supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e das Medidas Socioeducativas (GMF) do TJMG, elogiou a equipe técnica que possibilitou o desenvolvimento e a operacionalização da ferramenta, “particularmente valiosa porque foi feita por quem conhece” a realidade do sistema e seus problemas e mazelas. “Temos percorrido o estado, visitando as unidades do socioeducativo. E muitas vezes voltamos transtornados com o que vemos.”
De acordo com o desembargador, medidas que afetam a vida de jovens pesam para a magistratura, que precisa refletir muito antes de cada decisão. “O Poder Judiciário é o maior ‘fornecedor’ desses estabelecimentos, por isso é grande a nossa responsabilidade na chamada ‘porta de entrada’. Se não houver uma conduta acertada por parte de magistrados, promotores e defensores que tratam a questão, as consequências são graves.”
O supervisor do GMF ressaltou que a Central de Vagas permite uma visão detalhada de um cenário complexo e um atendimento mais qualificado do público ao qual é voltada. “Com ela é possível saber onde estão as vagas, qual a prioridade de um ou outro candidato a ser internado, e em que estabelecimento. Infelizmente, a vaga tem que existir e estar disponível. Quando um adolescente precisar ser conduzido, ele deve contar com o atendimento adequado.”
Segundo a juíza auxiliar da Corregedoria-Geral do TJMG, Aldina Carvalho Soares, foi uma felicidade presenciar a concretização da iniciativa. “A Central é uma resposta para problemas enfrentados diariamente pelos nossos colegas magistrados em todo o território mineiro.”
O secretário adjunto de Justiça e Segurança Pública, Jeferson Botelho, também ressaltou o papel de todos os parceiros no empreendimento. “A Central de Vagas reforça o entendimento de tratados e convenções internacionais que defendem a proteção de crianças e adolescentes e o tratamento humanizado em caso de conflito com a lei, visando à ressocialização, como princípios inafastáveis. E esse é também o nosso compromisso.”
Botelho falou sobre o esforço de aumentar a capacidade de atendimento em Minas Gerais, concretizada recentemente pela entrega de mais vagas a diversos municípios que abrigam unidades socioeducativas, e citou ações que visam ao combate a crimes que vitimam menores de idade, como a pedofilia.
Conquista conjunta
O subsecretário de Atendimento Socioeducativo, Leandro Almeida, frisou que a Central, que inaugura uma nova era, nasceu de uma integração do sistema de Justiça inteiro. “Agradeço pela confiança de parceiros, que, se reunindo conosco mensalmente, apontaram gargalos, fizeram críticas e cobranças, propuseram soluções e nos pautaram em nosso trabalho. Essa plataforma é um ganho de transparência, garantindo a proteção integral de crianças e adolescentes.”
De acordo com a coordenadora-geral do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, Giselle Cyrillo, o déficit no sistema socioeducativo no Brasil beira as 5 mil vagas e pode ser agravado pelos efeitos da pandemia, que ampliou vulnerabilidades. Nesse contexto, o aumento da publicidade e o uso de critérios objetivo são conquistas fundamentais.
“Estamos comprometidos com a expansão da capacidade e com a resposta à demanda, mas não podemos perder o desejo de que isso um dia não seja necessário. Temos também que aprimorar cada vez mais os espaços que vão receber essa população. Felicito o estado de Minas, por sua atuação pioneira que consagra o anseio de qualificação do sistema socioeducativo com foco nos direitos humanos, combatendo a reincidência e promovendo a responsabilização pela via pedagógica”, afirmou Giselle.
Proteção à juventude
O coordenador da Defensoria Pública Especializada dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes – Infracional, Alexandre Barbosa, classificou a Central de Vagas como “uma pérola que deve ser aplaudida e comemorada”. De acordo com ele, a Defensoria mineira considera o sistema um avanço na proteção de direitos do adolescente em situação de conflito com a lei. “A Central de Vagas traz racionalidade ao processo.”
Barbosa destacou, ainda, que a resolução envolveu diversas reuniões e um diálogo proveitoso entre os poderes e instituições. “Minas tem essa peculiaridade positiva de evoluir através da cooperação.”
A promotora de Justiça Paola Botelho, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Criança e do Adolescente, declarou que acompanha a angústia de colegas do Ministério Público e de outros órgãos nas questões relativas à gestão de vagas desde 2013. “As comarcas vivenciam realidades muito diferentes, e havia diversidade de tratamento para aquelas que possuíam centros socioeducativos e as demais. Pude acompanhar, ao longo dos anos, o incremento no atendimento. Agora haverá um tratamento igualitário. É preciso aumentar as vagas mantendo a humanização. A gestão deve ser lógica e eficiente.”
Para o delegado-geral da Polícia Civil, Joaquim Neto e Silva, a data “premia uma atuação interinstitucional dos órgãos e poderes constituídos em prol da infância e da juventude, que, por determinação da Constituição Federal, devem ser prioridade absoluta”. “Nossos recursos são limitados, por isso destaco o protagonismo da Sejusp. Temos que manter acesa a chama da esperança, buscando otimizar o atendimento e cumprir nossa missão para garantir os direitos dessa população e reduzir os obstáculos a esse objetivo.”
Fonte: TJMG