Campanha da Justiça de Pernambuco e do Sport Clube incentiva adoção tardia

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Os jogadores do Sport Club do Recife, time de futebol da capital pernambucana, entraram em campo no último dia 30 de agosto para a partida contra o Flamengo de mãos dadas com crianças que vivem em abrigos em Recife à espera de adoção. A ação, que também contou com exibição de um vídeo das crianças na Arena Pernambuco antes do jogo, faz parte da campanha “Adote um pequeno torcedor”, desenvolvida por meio de uma parceria entre a 2ª Vara da Infância e Juventude da Capital, o time Sport Club do Recife e o Ministério Público de Pernambuco. A ideia é aproximar pessoas que desejam adotar crianças mais velhas, um dos maiores desafios para o aumento do número de adoções no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) da Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

De acordo com dados do CNA, existem atualmente 5.646 crianças e adolescentes aptos à adoção no país e 33.594 pretendentes na fila. Cerca de 94% dos cadastrados no CNA buscam crianças menores de sete anos. No entanto, 78% das crianças que esperam por adoção já passaram dessa idade. Em Recife, há 14 abrigos e 82 crianças disponíveis para adoção, sendo a maioria delas maior do que sete anos. Em 2014, ingressaram nos abrigos da capital pernambucana 46 crianças, sendo que 22 delas tinham mais que cinco anos, e treze mais do que onze anos – no fim do ano, 27 haviam sido adotadas.

Quebrando preconceitos – A campanha “Adote um pequeno torcedor” está em sintonia com o trabalho de incentivo à adoção tardia que tem sido feito pela 2ª Vara da Infância e Juventude da capital, por meio de palestras com candidatos à adoção, com o intuito de derrubar mitos e preconceitos como a crença de que adotar uma criança com mais idade seria um processo muito complicado por já carregarem histórias de vida. De acordo com o juiz Élio Braz, titular da vara, toda criança tem uma história, e esse universo de perfeição não existe. Ele disse que tem acompanhado muitos casos de sucesso de adoções tardias com um bom preparo da criança e da família. “A nossa experiência mostra que o processo acaba sendo mais fácil, pois essas crianças mais velhas já têm uma consciência de que precisam de uma família, desejam e lutam por isso, passam a ser protagonistas no processo de adoção”, relata.

Desde 2012, a vara conta com um Núcleo de Apoio ao Cadastro Nacional de Adoção, formado por assistentes sociais, pedagogos e psicólogos, responsáveis pela atualização do CNA e pela avaliação de cadastro de pretendentes residentes em Recife, para realizar a adoção de crianças e adolescentes cujos processos judiciais foram concluídos. De acordo com o juiz, o processo de adoção de crianças com mais de sete anos é ainda mais difícil quando são negras, devido ao preconceito que ainda existe na sociedade.

Mudança de comportamento – No vídeo exibido antes do jogo entre Sport Club e Flamengo, crianças aptas à adoção expressavam a vontade de ter uma família. “Queremos despertar as pessoas pela paixão pelo futebol para fazer com que reflitam sobre essas crianças. Este é o nosso desafio”, conta o magistrado. De acordo com ele, o perfil da adoção vem mudando na capital e as famílias estão aceitando mais adoções tardias. “Sinal de que isso está acontecendo é que há cinco anos não fazemos nenhuma adoção internacional”, diz o juiz, referindo-se ao fato de que tradicionalmente famílias estrangeiras aceitam adotar crianças mais velhas.

Resultados – Desde que a campanha foi lançada no jogo de futebol, o magistrado conta que a vara já recebeu diversas ligações de pessoas interessadas em adotar crianças com mais de sete anos, e trabalha para agilizar esses cadastros. O magistrado ressalta que esses candidatos receberão o mesmo tratamento previsto no processo judicial de adoção, como, por exemplo, a capacitação por meio de cursos e avaliação dos profissionais da vara. “Com o avanço da idade a criança exige mais urgência no tratamento pelo Judiciário”, diz.

Famílias Solidárias – Outro programa em andamento na Vara é o “Famílias Solidárias”, que prevê o acompanhamento do grupo familiar que se dispõe a adotar crianças e/ou adolescentes que pertencem a um grupo de irmãos. As famílias assinam um termo de compromisso para manter o vínculo entre os irmãos que serão adotados por grupo familiar diferente. De acordo com o juiz Élio Braz, as famílias devem se visitar pelo menos em datas festivas e aniversários e, quando possível, manter as crianças na mesma escola.

Saiba mais sobre a Campanha de Recife.

Luiza de Carvalho Fariello
Agência CNJ de Notícias