O Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) realizou, nessa terça-feira (25/5), o webinário Adoção e Acolhimento familiar. O evento, no Dia Nacional da Adoção, reuniu profissionais do Judiciário da rede de apoio de diversas cidades do estado.
O corregedor-geral do TJMT, José Zuquim Nogueira, salientou a dificuldade em se adotar pelas preferências de perfil. “Mato Grosso tem 430 crianças e adolescentes acolhidos em 83 locais, segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA). São 199 meninos e 231 meninas. Por outro lado, temos 831 famílias candidatas a adotar. A conta não fecha, pois a maioria faz exigências para adotar.”
Ele conta que o desequilíbrio é flagrante em diversas situações. “Enquanto 239 pretendentes à adoção aceitam crianças de até 2 anos de idade e 264, crianças de até 4 anos, temos apenas 12 registros de pessoas interessadas que aceitam crianças de 12 anos, 8 registros de interessados que aceitam crianças de até 14 anos e 5 registros de interessados na adoção de crianças com 16 anos.”
A juíza da 2ª Vara de Tangará da Serra (MT), Leilamar Aparecida Rodrigues, apresentou os passos para a adoção, anseios e dificuldades e as vitórias também. Ela, que atua na comarca há seis anos, constatou várias mudanças de perfil dos interessados ao longo deste tempo. Falou de um casal de outra comarca que passou pelo curso da Ampara e alterou sua preferência para adoção. “A mãe me disse: eu descobri que eu queria um filho, mas ele não escolheu como queria a mãe dele. Se fosse branca ou negra, velha ou nova. Por isso alteramos nosso perfil.”
Os pretendentes acabaram adotando um casal de irmãos em idade mais velha. Exatamente uma das maiores dificuldades para a Adoção. Mesmo a menina tendo grande resistência em ser adotada. “A angústia da criança foi superada pelo preparo do casal. As crianças testam os casais, com medo de serem devolvidas. Eles estão juntos agora”, revelou a magistrada.
Leilamar ainda abordou a Entrega Legal e a Família Acolhedora. “Muitas mães ainda não sabem que podem entregar seus filhos para adoção. Não há crime nisto, mas se preocupam com o julgamento social por fazerem a entrega. Eu sempre explico que é um ato de amor evitar que a criança passe por dificuldades.”
Já a desembargadora Maria Erortides Kneip compartilhou sua experiência pessoal de adoção e da magistratura. “Quero responder uma pergunta que muitas pessoas fazem. Porquê comemorar o Dia Nacional da Adoção? Eu respondo: porque a consanguinidade não assegura uma criança feliz e plena. Há necessidade da família, dos ensinamentos. Eu tenho quatro filhos, um deles me chegou pela adoção. Todos estão encaminhados na vida. Seguem suas carreiras e seus estudos. A minha família ganhou muito com a adoção. Eles aprenderam a respeitar quem não tinha o mesmo DNA deles. Isso foi um processo.”
Ela defendeu que a integração das crianças e jovens a novas famílias é também um caminho para promover a segurança pública. “Quando eu cheguei na comarca de Várzea Grande, em 1985, tínhamos a Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febemat), local onde os adolescentes infratores eram conduzidos. Mas eu me recusava a mandar as crianças por pequenos problemas pra lá. Conseguíamos coloca-los em casas de famílias. Esse contato com a estrutura familiar é essencial. As crianças reagem bem a isso.”
Maria Erortides destacou também a importância da iniciativa de acolhimento familiar. “Como foi bom poder ensinar ao meu filho o que era verdura e proteína, como foi bom ler os primeiros livros pra ele, aos 12 anos de idade. O acolhimento faz bem, é comprovado. Temos as vantagens de um acolhimento familiar. Hoje temos 485 crianças e adolescentes em Mato Grosso que poderiam estar em uma Família Acolhedora. Um período em que os laços poderiam estar sendo construídos. Quando alguém o cobrisse de noite, ele poderia desenvolver o sentimento de amor e respeito ao próximo.”
O procurador de Justiça Paulo Roberto Jorge do Prado também trouxe experiências pessoais e ponderou pelo fortalecimento da Rede de Proteção. “Lembro-me de uma criança de seis anos que me segurou pelas pernas e pediu para achar alguém pra ela chamar de mãe. Vamos reunir toda a Rede, vamos mostrar aos gestores. Temos agora as facilidades dos meios eletrônicos, são econômicos e fáceis. Vamos fazer uma reunião e apresentar a Família Acolhedora. Vamos buscar na Ceja todos aqueles casais que tenham disponibilidade em adotar. Adoção é amor. Se são homos ou héteros, não importa. Bastam princípios.”
A programação do Mês da Adoção do TJMT continua. No próximo dia 31, haverá a Audiência Pública – 2021- Busca Ativa – Estratégias para inserção familiar de crianças e adolescentes acolhidos.
Fonte: TJMT